Maio celebra os estudantes. Ou se não assim o é, assim se faz parecer, com as comemorações de norte a sul do país à conclusão de mais um ciclo no percurso estudantil. Entre queimas das fitas, cartolas roxas ou o abanar das fitas nos céus, mais umas centenas de estudantes se preparam para virar costas à Academia e se juntar à profissão. Engraçado será notar que os relatos, na boca de muitos, são semelhantes…
Muitos sentem a falta de preparação para a profissão que os espera, muitos reconhecem a incerteza no que aí vem. Não posso afirmar que ouvi todos os colegas com receios sobre o que está por vir, mas posso confirmar que, com todos os que falei, as circunstâncias não eram muito diferentes. Cansados e desapontados por, ao fim de nove semestres, não se sentirem ainda preparados para o estágio que agora experienciam. Porquê? Serão os estágios em farmácia comunitária e hospitalar desajustados ao plano curricular que com eles findam? Serão as aprendizagens insuficientes para que desempenhem as suas funções enquanto farmacêuticos e profissionais de saúde?
Nos passados dias 29 e 30 de abril, a APEF fazia acontecer o XXII Fórum Educacional, onde, entre outros temas, refletia sobre os modelos de ensino que encontramos na formação em Ciências Farmacêuticas em Portugal, bem como nos reflexos denotados na aprendizagem de cada estudante. Num momento em que conseguimos sentar os estudantes à mesma mesa, vindos de sete diferentes instituições de ensino, conseguimos chegar a conclusões interessantes, que reforçam a necessidade sentida pelos estudantes de adaptação dos modelos de ensino atualmente apresentados, com reforço na inovação pedagógica, no ensino centrado no estudante e na aposta em métodos digitais e aplicados ao contexto prático do exercício profissional.
Nos tempos que correm, faz sentido ter 200 estudantes presos numa sala de aula, num momento meramente expositivo que facilmente poderia ser apreendido com recurso a material audiovisual? A construção de turmas mais reduzidas, com maior envolvimento e interpolação dos estudantes, com a possibilidade de resolução de casos práticos e indução de debates ativos, poderá ser a chave para a melhor fundamentação de conhecimentos. O método do ensino inverso, com disponibilização prévia dos conteúdos programáticos em formato digital, que permita aos estudantes preparação adequada para as aulas, mais interventivas, complementaria ainda melhor este conceito.
No que toca às avaliações, inúmeras são as perguntas teóricas colocadas. Quantas perspectivam a aplicação dos conteúdos aprendidos, em contexto clínico, característico da intervenção de um profissional de saúde? Esta foi outra das críticas apresentadas pelos participantes. Se, por um lado, se considera o ensino e respetiva avaliação demasiado focados na componente teórica, com falta de integração de conhecimentos adquiridos nas diferentes disciplinas, ainda se acresce a dificuldade de, em grande parte das situações, serem de natureza final, com falta de avaliação contínua e intercalar, que melhor possibilite a fundamentação gradual de aprendizagens.
A profissão está a evoluir a ritmos exorbitantes. O ensino, na perspetiva dos estudantes, não está a acompanhar. E talvez seja essa a razão para tanta apreensão.
Josué Moutinho, Presidente da Direção da APEF