Ana Sofia Antunes
Secção Especializada em Doenças Crónicas da Sociedade Portuguesa de Farmacêuticos dos Cuidados de Saúde (SPFCS)
A Enxaqueca é uma condição neurológica muito prevalente, afetando milhões de pessoas em todo o mundo. Portugal não é exceção: a cada quatro lares, há pelo menos uma pessoa que vive com Enxaqueca.
Como pode o Farmacêutico apoiar estes doentes?
Primeiro cenário
Um utente recorre à farmácia comunitária sem prescrição médica, apresentando um conjunto de sinais e sintomas para os quais precisa de ajuda. Pede aquele medicamento que viu na televisão, a ver se “é desta que é de vez”. O Farmacêutico começa a fazer perguntas. Avalia a natureza dos sintomas, a duração das queixas, se o utente iniciou algum tratamento e se existem comorbilidades ou outros problemas de saúde. Inquire acerca da localização e tipo de dor, como esta surgiu, a intensidade e evolução, quais os fatores desencadeantes, se existe recorrência e qual a frequência. Pergunta ainda se tem sintomas associados e qual é o impacto na vida diária. No decorrer desta anamnese, o farmacêutico identifica que o utente apresenta sinais de cefaleia por uso excessivo de medicação, sendo necessário referenciá-lo ao médico. Sistematiza a informação recolhida numa carta dirigida ao clínico, enviando-a por e-mail, e entregando cópia ao utente. Sensibilizando-o para a sua situação, entrega também um “Diário da Enxaqueca” para que este o preencha até à sua consulta médica. Desta forma o farmacêutico não só evita a automedicação inadequada, como também contribui para uma abordagem mais eficaz e integrada de cuidado, mudando positivamente a trajetória de saúde do utente.
Segundo cenário
O utente apresenta uma prescrição médica. Também neste caso a intervenção do Farmacêutico é crucial, promovendo uma dispensa ativa, centrada no doente. Avaliar pró-ativamente as necessidades e a par da cedência, corresponsabilizar pelos resultados farmacoterapêuticos a obter. Numa primeira dispensa é crucial garantir a adesão à primeira toma, prestando informação oral e escrita sobre o objetivo da terapêutica, a posologia, as reações adversas mais comuns e medidas complementares se devam adotar. Já no caso do doente prevalente, que procura a renovação, deve por outro lado avaliar-se a efetividade e a segurança da utilização, o alcançar dos objetivos definidos e a adesão ao tratamento proposto.
Quais são os principais desafios e oportunidades na intervenção do Farmacêutico?
A necessidade de formação contínua sobre novas terapias e abordagens no controlo da enxaqueca. A par dessa capacitação, deve promover-se a colaboração interdisciplinar, alavancando a acessibilidade para trabalhar em rede com outros profissionais de saúde. É importante uniformizar intervenções, pelo uso de protocolos e ferramentas de apoio que estruturem a recolha de informação de forma dirigida, levando a uma maior consistência do desempenho. Apostar na educação em saúde, realizando palestras e campanhas de consciencialização, ou até mesmo utilizar a Telefarmácia, com recurso a plataformas digitais para fornecer orientações sobre a gestão da enxaqueca.
O farmacêutico está na linha da frente e deve ser chamado à ação. O curso “O papel dos Farmacêuticos na Abordagem das Cefaleias e Enxaqueca para Farmacêuticos Comunitários”, promovido pela Sociedade Portuguesa de Farmacêuticos dos Cuidados de Saúde, SPFCS, surge como uma resposta às necessidades de formação contínua, promovendo o domínio de ferramentas, treino de comunicação efetiva e o acesso a abordagens terapêuticas atualizadas. Pretende-se que a intervenção farmacêutica seja mais eficaz, responsável e integrada de forma a melhorar a qualidade de vida e proporcionar acompanhamento personalizado a quem vive com Enxaqueca. Aceitas o desafio?