A crise de 1929, apelidada por muitos de a primeira grande crise do capitalismo, trouxe, como todas as crises, grandes alterações na sociedade.
Repare-se que estávamos perante uma sociedade nascida da revolução industrial que, tendo descoberto as possibilidades de desenvolvimento provocadas pela produção em massa, experimentava alterações profundas no modo de vida. Novos meios de transporte e comunicação, aumento da escolaridade, diminuição da natalidade, outras formas de ocupação dos tempos livres e até um novo papel social para a mulher.
Como em todas as alturas de grandes mudanças, houve também grandes desafios; a crise de 1929 é um deles. A produção em massa provocou um excesso de oferta face à procura e o mercado entrou em queda.
Na verdade, não é preciso cenários complexos para explicar isto. Pensemos o seguinte: anteriormente teríamos um artesão que produzia cadeiras a um ritmo reduzido e à medida das necessidades dos seus clientes; com a revolução industrial, aproveitando o saber desse artesão, passamos a ter uma fábrica a produzir cadeiras em grande número. Só que produziram-se tantas que, a determinada altura, já não existem mais pessoas para sentar nessas cadeiras. Na base, é isto que provoca a referida crise.
No entanto, pelo menos do ponto de vista da gestão, retiraram-se dois grandes ensinamentos da crise: desde que haja uma indústria tem de haver uma grande massa de consumidores e, mais importante, é preciso produzir no sentido de satisfazer as necessidades dos consumidores. Ou seja, não devo fazer uma fábrica de cadeiras, apenas porque as sei fazer, devo primeiro perceber o que as pessoas desejam; e se o que elas desejam é bancos, então tenho é que reformular a minha fábrica para fazer bancos. Isto é a génese do Marketing. Uma filosofia de gestão que parte do consumidor para a empresa e não da empresa para o consumidor. Infelizmente, alguns usam hoje o termo de um modo errado: como se fosse algo feito para enganar. Alguns profissionais desta área usarão os seus conhecimentos de um modo pouco ético? Muito provavelmente, mas isso é, infelizmente, transversal. Acontece em muitos outros setores.
No final, a verdade é que o Marketing se baseia numa sociedade em que o primado do consumidor e a concorrência são reconhecidos como um motor do desenvolvimento económico. E isso quer dizer estar atento ao Outro. Na essência, é bom que assim seja.
João Barros
Professor na Escola Superior de Comunicação Social e Investigador no Centro de Estudos Clássicos da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa