
Já perdi a conta aos nomes das gerações. De cor não conseguiria dizer quais são (exceto a minha), quando começam e quando acabam. Mas fui procurar, sendo que desconsiderei as que já estarão fora do mercado de trabalho, ou seja, parei no limite superior dos Baby Boomers (nascidos entre 1946 e 1964).
Ora então temos, ordenadas por ano de nascimento:
- 1. Baby Boomers (1946 a 1964)
- 2. Geração X (1965 a1980)
- 3. Millennials ou Geração Y (1981 a 1996)
- 4. Geração Z (1997 a 2012)
- 5. Geração Alpha (2013 a 2025)
Porquê falar deste tópico já tão gasto, com tantas frases feitas e conceções de sociedade (aparentemente) tão distintas? Porque qualquer pessoa que esteja neste momento em posição de liderança estará enfiado dentro de uma máquina de lavar industrial, daquelas onde cabem potenciais reformados este ano até recém-licenciados que até há poucos meses se sentavam no chão da Segunda Circular, em protestos contra os combustíveis fósseis. Obviamente que estou a ironizar: quem se sentou na Segunda Circular pouca vontade tem de estudar, quanto mais trabalhar. Ou talvez esteja a ser injusto, é possível que alguns sejam, na realidade, excelentes alunos e a parte idílica da vida ainda se manifeste em todo o seu esplendor. Enfim, nada que a idade não cure (ou que um motor V8 alimentado por umas valentes octanas não obrigue a desviar).
É fácil de gerir? Depende do nosso mindset.
Passo a explicar: Em todas a gerações, sempre existiram pessoas cujos objetivos de vida podem ser qualificados, como dizem os americanos, crystal clear. Uns chegam lá, outros nem por isso. Ajuda tê-los definidos? Bastante. É por isso garantia de que se chega lá? Também não.
Outros nem tanto. Seja por falta de social skills, (atenção que a imbecilidade não é uma patologia), por falta genuína de oportunidades (ou por desperdício das mesmas), questões de saúde, discriminação ou pura e simplesmente azar. Diz-se que a sorte dá muito trabalho, mas que é necessária uma ponta de sorte na vida, lá isso parece-me uma verdade indesmentível.
Voltemos ao ambiente laboral e pensemos: “Bem, talvez a questão da adaptação seja algo em que as gerações mais jovens tenham mais facilidade, certo?” Desconheço em detalhe o que diz a literatura, guio-me pelo conhecimento empírico que vou recolhendo com alguns anos de trabalho. A minha conclusão é nim.
A verdade indesmentível, observável e comprovável diz-nos que quanto melhor for a adaptação, melhores serão as probabilidades de sucesso. Quer isto dizer que adaptar-se é dizer “Sim” a tudo ao qual temos de nos adaptar? Longe disso. A mudança é (e sempre será) necessária. A História e a Biologia comprovam que quem não muda, morre, definha ou extingue-se.
Por momentos lembrei-me de Charles Proteus Steinmetz, figura que 99.99% dos leitores que aqui chegaram não conhecem. Não que devessem conhecer, diga-se. Eu tive acesso apenas porque li na diagonal alguns artigos relativos à investigação que realizou com CA (Corrente Alternada) e aos equipamentos que ajudou a desenvolver ao nível de geradores elétricos industriais. Senti-me na necessidade de mencionar este facto para que não ficassem com a ideia de que sou um vigoroso apoiante de V8´s e octanas. Na realidade, o que me levou ao nome deste senhor foi uma procura por artigos relativos à autonomia de carros elétricos, visto que agora conduzo um.
Reza a história que na fábrica da Ford em River Rouge (Michigan), um gerador de grandes dimensões deixou de funcionar. Os engenheiros locais tentaram arranjá-lo, mas depois de horas de testes, ninguém conseguiu encontrar o problema. Desesperado, Henry Ford chamou um homem que, embora pequeno em tamanho, era um gigante da engenharia: Charles Proteus Steinmetz.
Quando Steinmetz chegou à fábrica, pediu um caderno, uma caneta e uma cama para poder descansar perto da máquina. Passou dois dias a observar e ouvir o gerador, enquanto fazia cálculos e tirava umas notas. De repente, pediu uma escada e um pedaço de giz. Subiu com bastante dificuldade (procurem uma foto dele e perceberão porquê), marcou um ponto na superfície da máquina e desceu tranquilamente.
“Tire a tampa e remova 16 voltas de cabo, exatamente de onde fiz a marca — indicou os engenheiros.
Céticos, mas sem alternativas, os trabalhadores fizeram exatamente o que ele disse. Assim que eles acabaram, o gerador voltou à vida como se nunca tivesse falhado.
Dias depois, Henry Ford recebeu a conta: 10.000 USD. Obviamente, pediu-lhe para detalhar os custos. Steinmetz enviou uma nova fatura com duas simples linhas:
Marca com giz no gerador: $1
Saber onde marcar: $9.999
Nas empresas, por vezes também é assim. O conhecimento e a experiência pagam-se e, dependendo do tamanho do problema ou da oportunidade, pagam-se bem.
Não faço ideia a que geração pertencia Steinmetz. Se me chamasse Ford quereria o seu know-how e não o seu Cartão do Cidadão. No entanto e na esmagadora maioria das situações, o know-how vem com a experiência, quer de vida quer profissional.
Não podemos ter a expectativa de que jovens profissionais saibam tudo, mas devemos exigir que tenham disponibilidade para aprender. Já agora, predisposição mental e humildade para isso.
Por outro lado, assumir que muita experiência é necessariamente boa experiência é outro erro clássico. Nem a idade é um posto nem a experiência por si só qualifica alguém. Também aqui existe a profunda necessidade de aprender com os mais jovens!
Invariavelmente vamos dar ao mesmo: o sucesso irá sorrir aos que entendam que a mudança é uma constante e que quanto melhor se adaptarem, mais êxito potencialmente terão.
O mundo farmacêutico vive momentos muitos interessantes no que toca à questão geracional. Se por um lado temos ainda alguns Baby Boomers no ativo, a maior fatia irá seguramente para a Geração X e Millennials e Z.
Há uns meses falava com um amigo, Professor Catedrático e ilustre médico. Fiquei com a sensação de que adoraria ser uma mosquinha num Serviço Hospitalar quando o Prof. Dr. solicita a um Interno algum trabalho extra que é prontamente recusado ou dificilmente aceite em função de não poder comparecer numa partida de padel combinada há uma semana. Ou ser essa mesma mosquinha numa Farmácia na qual o trabalho por turnos é encarado com especial sacrifício num início de carreira. Por outro lado, ver o Interno ou jovem Farmacêutico olhar para os dedos do seu mentor a carregar no teclado, letra por letra, normalmente com o indicador de cada mão também seria interessante, em especial naquelas situações em que um filtro ou uma tabela dinâmica pode poupar horas de trabalho e que um jovem (ao invés do seu mentor) faz em menos de 5 minutos.
Ou até na Indústria. Sendo que aqui, meus caros, a experiência ainda é das coisas mais valorizadas, pelo menos em posições de relevância.
Exageros e ironia à parte, boa sorte para todos e que ninguém se aleije, pois o nosso futuro está (como sempre esteve) nas mãos das novas gerações, pelo menos daqueles que por cá ficam e não se sintam obrigados a emigrar para países que reconheçam os seus méritos e os recompensem monetariamente de forma adequada.
João Carlos Serra Commercial Operations Director & Senior Healthcare Consultant HCO, Industry Investors and Pharma