Há muitos professores que anseiam pelo regresso das aulas presenciais. O problema é que as aulas porque eles anseiam dificilmente serão as que teremos nos tempos mais próximos. Quando um professor pensa em aulas, pensa numa sala cheia; de alunos, de vida e, principalmente, de interação humana livre e sem receios. Este dificilmente será o cenário. Na verdade, o mais provável é que sejam salas quase vazias, com alunos muitos distanciados, com a cara tapada por uma máscara, a ouvir um professor que tem, também ele, de se manter longe e com a cara tapada. A tudo isto ainda se junta um ambiente cheio de dúvidas e medos. Neste momento, uma aula tem mais possibilidades de ser eficaz e interativa por videoconferência que presencialmente.
O grande problema é que se o pensamento racional até nos pode levar facilmente a este tipo de conclusões, a nossa memória emocional ainda nos fala de outro mundo. E não é só na área do ensino que isto se passa.
Em muitas áreas vê-se uma vontade de voltar ao normal, como se ele ainda lá estivesse, imaculado e exatamente igual. Em muitos casos não está.
Vivemos um momento caracterizado por grandes mudanças e, tal como em todos os outros momentos de viragem na nossa história, temos de perceber que há coisas que não voltarão a ser iguais.
Tal como muitos dos ferreiros de cavalos tiveram de reequacionar completamente o seu negócio após a adoção massiva do automóvel, assim vai ter de acontecer com muitas áreas empresariais. É que, às vezes, a continuidade só se faz pela rutura.
João Barros
Professor Convidado na Escola Superior de Comunicação Social e Investigador no Centro de Estudos Clássicos da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa