Imaginemos um equilibrista em plena travessia… sabemos que apesar de ter um rumo bem definido, nesse seu trajeto é confrontado pelo perigo iminente da queda. No domínio da sua arte, mune-se de técnica, mas também ferramentas que o protegem de um súbito deslize e, por isso, não é incomum vermos uma rede na base do seu exercício.
Para os farmacêuticos, em que o rumo da nossa prática nem sempre é bem definido e apresenta um conjunto de obstáculos éticos que implicam diretamente o sucesso ou insucesso da vida, essa rede na base do nosso exercício é o Código Deontológico.
A História mostra-nos que sempre lidámos com o advento tecnológico com a curiosidade típica que esteve na génese dos boticários nossos antepassados. Numa travessia exigente como a do equilibrista, ultrapassámos desafios éticos que nos colocaram nos momentos altos, mas também nos momentos baixos da utilização dessa tecnologia.
Os farmacêuticos, em conjunto com os seus pares, sempre souberam colocar a ciência ao serviço da saúde. Munidos do conhecimento, mas também de uma matriz de princípios e conduta robusta, escrutinada e exigente.
Por esse motivo, reconhecemos a natureza fundamental da evolução da nossa matriz deontológica como ferramenta indispensável à proteção dos cidadãos e da sociedade enquanto destinatários finais da nossa intervenção.
Saudamos, assim, a proposta de um novo Código Deontológico para a profissão Farmacêutica, apresentada pela Direção Nacional da Ordem dos Farmacêuticos e submetido a Consulta Pública.
Os jovens farmacêuticos entendem que a evolução do Código Deontológico é uma resposta clara ao progresso da profissão e aos desafios que se lhe colocam no presente, mas também aqueles que se antecipam no futuro.
Uma resposta que tem em conta os fatores tecnológicos, económicos, sociais e políticos que moldam a atuação farmacêutica e lhe atribui responsabilidades diferenciadas na prestação de cuidados de saúde e na medição de resultados em saúde produtores de conhecimento que melhorem a qualidade de vida das pessoas. Que privilegia a liberdade técnica e científica do farmacêutico, protegendo-o de eventuais quedas, enquanto o responsabiliza perante a sociedade pela sua prática.
Continuamos convictos de que uma regulamentação exigente, participada, e eficaz da nossa profissão, mas em geral das profissões de saúde, é a melhor forma de não defraudar as expectativas que os cidadãos continuam a depositar nos profissionais de saúde. Neste difícil exercício de equilíbrios, queremos continuar a contar com uma rede forte suportada por todos os farmacêuticos e que sirva de base para a nossa atuação profissional.
Acompanhar a transformação das sociedades é um dever imperativo de todas as profissões. Estar preparados para corresponder às suas necessidades, utilizando as melhores práticas e conhecimentos mais avançados é absolutamente determinante para a manutenção da sua vitalidade.
Manuel Talhinhas
Presidente da Direção
Associação Portuguesa de Jovens Farmacêuticos (APJF)