Mesmo num mundo em constante mudança, há coisas que parecem nunca se alterar.
O tempo, por exemplo, aparentemente nunca está como devia. Se está muito calor, as pessoas queixam-se; se está frio ou chuva, as pessoas queixam-se. Curiosamente, costumam ser as mesmas.
Um fenómeno similar se passa com o comércio de rua. Qualquer que seja a entrevista que se veja com um comerciante, o discurso costuma ser algo como “este ano está a correr muito mal, não se vende nada”. O ano passado, costumam dizer (todos os anos!), ainda tinha escapado, mas este tem sido a desgraça total.
Quando os músicos ainda lançavam discos, também havia uma constante: o álbum acabado de lançar era sempre o melhor da carreira. Lembro-me inclusive de um cantor que, com enorme senso e sentido de humor, respondeu à pergunta habitual de se este era o seu melhor disco com: “Não! O meu melhor disco é o próximo!”. Tal como o próximo ano será pior para os negócios e o tempo que fizer hoje terá algo de errado.
Algo similar se passa com boa parte das análises das novas gerações. Qualquer nova geração é alvo de olhares preocupados e acusada de não ter valores. É, por isso, apenas normal ouvir o discurso que esta geração “está perdida”.
No caso mais recente, são acusados de não lerem, não falarem uns com os outros, só ligarem às redes sociais e serem imaturos.
Eu, confesso, recuso-me a assinar por baixo destas avaliações simplistas.
Marcada por um mundo onde o tempo e o espaço foram comprimidos pela tecnologia, esta geração tem, naturalmente, as suas particularidades – como todas as anteriores tiveram as suas. Mas se isso trouxe coisas menos positivas, também trouxe vantagens.
Temos hoje a despontar uma geração de indivíduos muito informados, muito mais cientes dos seus direitos, socialmente e ambientalmente responsáveis e muito mais tolerantes.
Creio que o principal problema dos críticos das novas gerações tem sido o facto de se esquecerem de como eram e dos erros que cometeram em fases anteriores da sua vida. Como disse Christian Von Koenigsegg, a perfeição é um alvo em movimento; e, muito provavelmente, todos nós estamos muito longe de a alcançar.
E o que tem isto a ver com Publicidade? Porque não só um bom comunicador precisa de conhecer as pessoas com quem fala e perceber as evoluções sociais, como deve, acima de tudo, ser capaz de manter um espírito aberto e livre de ideias pré-concebidas.
Quanto às angústias sobre a nova geração, eu recomendaria muita calma. Até porque, para os críticos do costume, esta não será a pior geração. A pior é a seguinte…
João Barros,
Professor Convidado na Escola Superior de Comunicação Social e
Investigador no Centro de Estudos Clássicos da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa