Carlos Maurício Barbosa, bastonário da Ordem dos Farmacêuticos (OF) entre 2009 e 2015, acredita que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) se deve recriar para assim “usufruir de todo o potencial” que a capacidade instalada a nível nacional pelas farmácias comunitárias advoga em prol de uma menor pressão sobre as unidades de Saúde.
Em declarações ao Netfarma, à margem do evento “Noites da Ordem”, no dia 28 de março, o antigo representante dos farmacêuticos afirmou que “o SNS tem que se recriar, não pode continuar a funcionar como tem funcionado, que para além de mal, fica muito caro”. Assim, deve-se “usufruir da capacidade instalada no território através das farmácias comunitárias onde trabalham mais de 10 mil farmacêuticos” em todo o país.
A importância da temática relaciona-se com a dispensa de medicação hospitalar em proximidade e a renovação automática da terapêutica, medida que, garante, era “vista como um sacrilégio” por altura do seu primeiro mandato. Trata-se de dois “desafios muito grandes, mas que hoje em dia estão inscritos no Orçamento do Estado”, disse, ao lembrar que “a semente foi lançada em 2011/2012 e só hoje o assunto passou a ser encarado”.
“Ninguém está contente com o SNS”
Carlos Maurício Barbosa assegura que “o SNS não está a conseguir satisfazer os seus doentes e funcionários”, razão pela qual, explicou, os farmacêuticos hospitalares dos serviços públicos “têm motivos para continuar com algum descontentamento, a nível salarial e de reconhecimento dos seus anos de trabalho para progressão nas carreiras, e isso tem de ser reconhecido sem dúvida nenhuma”.
Numa radiografia por alguns dos assuntos do momento no setor, o anterior bastonário da OF reforçou que “os farmacêuticos hospitalares fazerem greve pela primeira vez é bem representativo desta situação [desgaste do SNS]”. No entanto, fez questão de apontar a concretização de um dos desejos destes profissionais e que se prende com a a efetividade de uma “carreira farmacêutica autónoma, própria dos farmacêuticos hospitalares (análises clínicas, farmácia hospitalar e genética humana), que já foi um grande avanço”.
“Queremos uma Farmácia Comunitária clínica”
Um novo desafio ocupa atualmente o tempo de Carlos Maurício Barbosa: a Sociedade Científico-Profissional de Farmácia Ibero-Americana Comunitária (SOCFIC), onde é vice-presidente. “Estamos a falar de uma população na ordem das 600 milhões de pessoas. Há que apostar nesta grande região onde nós, portugueses, nos sentimos muito bem”, sustentou.
É então necessário “tornar a Farmácia Comunitária cada vez mais num espaço de Saúde, uma instituição de prestação de cuidados de Saúde, inserida nas comunidades”. Por isso mesmo, este espaço não deve existir sem a presença de um farmacêutico comunitário, onde “em Portugal e em Espanha é uma realidade, mas em outros países, não é bem assim”. “Queremos uma Farmácia Comunitária clínica, focada no doente, e baseada numa prestação de cuidados muito assistencial à população”, rematou.
Esta sociedade, com cerca de 200 mil farmacêuticos, finalizou, quer focar-se na “garantia de resultados clínicos no uso do medicamento”. Nos dias 9 e 10 de junho, a SOCFIC promove o 1.º Congresso de Farmácia Comunitária Ibero-Americana, em Barcelona.