A vida é como um comboio. Há os rápidos, como o TGV, que infelizmente não foi priorizado e ainda não chegou a Portugal, há os Intercidades ou Alfas desta vida, que demoram 2 horas e meia do Porto a Lisboa, frequentemente mais, parando nas estações principais e há os Regionais que param em quase todos os apeadeiros.
Três escolhas para objetivos diferentes. Todos os comboios têm um papel importante no serviço aos cidadãos, mas dependendo do objetivo de cada viagem é tão inadequado fazer uma viagem turística ao Douro num TGV, como ir num Regional para uma reunião de trabalho a Lisboa. Desculpem-me os lisboetas o exemplo, mas sou uma nortenha que “bibe” no Porto e as deslocações a Lisboa são cada vez mais frequentes.
Feita esta analogia, salto agora para o meio profissional. Cada vez mais nos pedem resultados e Lead Times mais apertados e sem errar. Fazer bem à primeira continua a ser lema em ambiente de trabalho competitivo e saudável. Eu própria uso esta referência, partindo do princípio de que somos humanos e errar é humano, mas devemos em primeira instância, olhar para o sistema e não para o indivíduo. Em que condições estamos a pedir ao profissional para realizar as suas tarefas? É preciso o tempo certo para fazer bem!
A otimização dos processos é necessária para sermos competitivos, os objetivos traçados devem sempre ser desafiadores e a oportunidade de melhoria deve estar sempre presente, sem dúvida. Mas onde é que devemos “abrandar” esta pressão para evitar efeitos contrários e até perversos face aos objetivos traçados? É aqui que me questiono.
“A pressa é inimiga da perfeição” é uma forma de expressar que, quando nos propomos fazer algo num tempo inferior ao necessário, corremos o risco de cometer erros ou ter de repetir o trabalho porque o resultado não tem a qualidade desejada. Ou seja, é uma advertência para que não subestimemos a importância de ter o tempo necessário para fazer bem e à primeira. Na indústria farmacêutica isto não poderia ser mais verdade, particularmente quando estamos a falar de operações de fabrico e analíticas complexas, muito exigentes do ponto de vista da execução.
A qualidade dos medicamentos que produzimos e controlamos não pode ser colocada em risco sob pena de colocar em causa a saúde pública, a reputação da empresa e a sustentabilidade do negócio. Os farmacêuticos que são “Qualified Person” têm o dever de tomar as medidas adequadas para salvaguardar a qualidade do medicamento, seja a de rejeitar um lote ou proceder a uma recolha, por exemplo. Mas sabemos que estas medidas são a última coisa que queremos fazer, na medida em que constituem custos elevados para as empresas e para os pacientes, determinando muitas vezes a indisponibilidade dos medicamentos, ainda que temporariamente.
O equilíbrio entre o exigido e as condições de realizar o nosso trabalho com qualidade devem estar salvaguardadas. Temos de ser ambiciosos no nosso trabalho, não compactuar com a falta de profissionalismo, mas não podemos andar, literalmente, sempre a correr como se estivéssemos constantemente numa corrida de contrarrelógio. É aqui que penso devemos refletir sobre o frenesim que já aceitamos sem questionar. E mais uma vez, os ditados populares continuam a dizer-nos verdades: “Quanto mais depressa mais devagar”.
As coisas importantes na nossa vida, profissional e pessoal, para serem bem feitas e para não comprometerem os objetivos traçados, têm de ter o tempo certo!
“Para tudo há um tempo.” Tempo para pensar, tempo para planear, tempo para executar! E por último e não menos importante, tempo para ser feliz.
Paula Teixeira
Candidata ao Conselho do Colégio de Especialidade de Indústria de Farmacêutica da Ordem dos Farmacêuticos (Lista I)