OF: Crise obrigou mais de 600 farmacêuticos a emigrar
12 de outubro de 2017 Mais de 600 farmacêuticos emigraram nos últimos anos devido aos baixos vencimentos em Portugal, onde farmácias foram obrigadas a despedir os profissionais com maior experiência e mais bem pagos, evitando o fecho de portas, segundo a bastonária da Ordem dos Farmacêuticos. Ana Paula Martins falava aos jornalistas a propósito do Congresso Nacional dos Farmacêuticos, que decorre entre hoje e sábado, em Lisboa, este ano dedicado ao tema “Medicamentos para todos”. A emigração destes profissionais foi uma das consequências da crise que afetou o setor nos últimos anos, nomeadamente durante a aplicação do memorando da troika, que resultou em penhoras e insolvências para 600 farmácias, tendo encerrado 75. Nesse período, adiantou a bastonária, as farmácias tiveram de despedir 800 farmacêuticos, os mais qualificados, pois eram estes que auferiam maiores vencimentos. «Estes despedimentos foram feitos para impedir que as farmácias fechassem as portas e a rede [de farmácias] acabasse», disse. Para contornar a falta deste pessoal especializado, foram contratados farmacêuticos recém-formados, mas com vencimentos menores. Muitos desses jovens farmacêuticos optaram por emigrar, tendo a Ordem conhecimento de 604 que seguiram esse caminho, o que conduziu a uma outra situação: «Atualmente há farmácias que precisam de novos farmacêuticos e não encontram», disse, citada pela “Lusa”. Em Portugal existem atualmente nove cursos a produzir farmacêuticos. Neste período, e segundo dados da Ordem, «o mercado nacional de medicamentos teve uma redução de 869,4 milhões de euros em valor e de 11,9 milhões de embalagens». Os mesmos indicadores referem que, entre 2011 e 2014, «o setor da distribuição teve uma perda de margem de quase 323 milhões de euros, um valor 6,5 vezes superior aos 50 milhões de euros definidos no memorando de entendimento assinado entre o Estado português e a troika». Neste congresso, a bastonária irá defender um novo modelo de financiamento das farmácias, pois considera que estas empresas «não podem viver só da margem [de comercialização dos medicamentos], mas também dos serviços que prestam e outros que poderão vir a prestar e que devem ser remunerados». «Temos de pensar no futuro», disse Ana Paula Martins, convencida de que o que o setor fez nos últimos anos não poderia ser feito agora, uma vez que não só as margens dos medicamentos baixaram, como o seu preço também. Alguns cancros, como o melanoma e o do pulmão, a infeção pelo VIH e o vírus da hepatite C são algumas das doenças que mais têm beneficiado com esta inovação, disse. |