OF: Uso de canábis é «deixar doentes abandonados à sua sorte» 760

OF: Uso de canábis é «deixar doentes abandonados à sua sorte»

 


21 de fevereiro de 2018

A Ordem dos Farmacêuticos (OF) considera que o cultivo e uso da planta da canábis é «uma não solução» e representa «deixar os doentes abandonados à sua sorte».

Félix Carvalho, do grupo de trabalho da OF sobre a canábis para fins terapêuticos, disse ontem no parlamento que «não se pode dizer [aos doentes] para cultivar plantas em casa como uma suposta mezinha».

«Não é essa a forma de tratar os doentes em Portugal», afirmou Félix Carvalho, frisando que a planta da canábis pode ainda «agravar a doença de quem se pretende tratar», citou a “Lusa”.

Félix Carvalho adianta que o que tem sido estudado é a eficácia dos canabinoides em medicamento, não havendo adequadas avaliações de risco e benefício para a planta da canábis.

O representante do grupo de trabalho da Ordem dos Farmacêuticos, que ontem apresentou um parecer sobre uso de canábis com fins terapêuticos, considera inadequado propor o auto cultivo da planta da canábis, adiantando que «é uma não solução [e] é deixar os doentes abandonados à sua sorte».
«Vemos com muita preocupação que se pretenda usar o auto cultivo de plantas para soluções que já existem com medicamentos que estão no mercado», indicou.

Graça Campos, também membro do grupo de trabalho que foi ontem ouvido no parlamento, considera que o cultivo da planta da canábis em casa não confere «controlo de qualidade sobre nada».

«E pode-se acrescentar contaminações de fungos ou possível contaminação de metais pesados se a terra estiver contaminada. Posso acrescentar situações à doença daquela pessoa», afirmou.

Também Hélder Mota Filipe, antigo dirigente da Autoridade do Medicamento, corroborou no Parlamento que «existem medicamentos canabinoides que fizeram todo o percurso para avaliação em termos de qualidade e segurança», o que não acontece no caso da planta da canábis, que tem centenas de compostos e muitos deles nem se sabe a sua atividade.

«Estar a discutir o uso da planta em vez do uso destes medicamentos é estar a retroceder», considerou Hélder Mota Filipe.

Na audição na comissão parlamentar de Saúde, a deputada do CDS Isabel Galriça Neto considerou que esta é «uma matéria científica» e que «não é seguramente política», entendendo ainda que «há terapêuticas alternativas que fundamentadamente são opções para o tratamento sintomático» para os doentes.

«Temos todas as reservas às questões que envolvem o uso da planta e do auto cultivo», considerou a deputada, que é médica, indicando ainda que para o CDS esta questão «não é uma premência social».