OM considera positivas, mas tardias medidas de incentivo à classe 404

OM considera positivas, mas tardias medidas de incentivo à classe

10 de Março de 2015

O bastonário da Ordem dos Médicos (OM) qualificou hoje como positivas as medidas de incentivo para médicos em regime de mobilidade parcial e o alargamento por mais três anos da contratação de clínicos aposentados, mas considera-as tardias.

O Ministério da Saúde alargou por mais três anos o período de contratação de médicos aposentados e aprovou medidas de incentivo para clínicos em regime de mobilidade parcial e para os que se fixem em zonas carenciadas do país.

Em declarações à agência “Lusa”, José Manuel Silva considerou que as medidas anunciadas são «positivas e naturalmente apoiadas» pela Ordem dos Médicos, mas «não são muito extensivas» no caso das ajudas de custo e que podem pecar por «tardias para travar o fluxo emigratório» que já se está a fazer sentir.

«Na questão dos médicos que vão receber 200 euros de ajudas de custo por dia, quem ler o título pensa que todos os médicos que trabalham a 60 quilómetros de casa o vão receber. Não é verdade, só se aplica a médicos que trabalhem em dois hospitais que distem esta distância e, que eu saiba, isso só acontece no centro hospitalar do Algarve, logo, só tem impacto regional e só se um médico for fazer um período de 24 horas seguidas, caso contrário é menor [a retribuição]», explicou José Manuel Silva.

Apesar de saber das medidas do Governo apenas pela comunicação social, uma vez que ainda não teve conhecimento oficial dos diplomas, o bastonário da Ordem dos médicos, salientou que aquele organismo há muito que defende a discriminação positiva para os clínicos que forem para o interior.

«É positivo que se avance neste sentido para fixar os médicos no interior, não sabemos se será suficiente para evitar o fluxo emigratório que já se criou e do qual os médicos dão uma informação de retorno muito positiva. Não sabemos se será suficiente ou se será tardio para suster o fluxo emigratório», ressalvou.

O clínico lembrou ainda a especificidade da profissão, sublinhando que há questões específicas da atividade médica que devem ser respeitadas, nomeadamente, no que diz respeito à idade a partir da qual procuram emprego.

«Em qualquer profissão, as pessoas procuram trabalho aos 23 anos e os médicos, devido à especialidade, só por volta dos 30 o fazem, quando já têm compromissos e família. A questão da mobilidade é complexa, tem de ser tido em conta, senão o que acontece é a emigração», argumentou.

Em relação ao diploma que diz respeito aos médicos reformados, José Manuel Silva considera-o igualmente positivo, já que «permite que o clínico acumule a reforma e, caso aceite voltar a trabalhar, seja minimamente recompensado», embora reconheça que o «estímulo possa ser baixo».

O bastonário explicou que é um diploma que terá de ser avaliado na sua aplicação, considerando que o mesmo devia ter sido aplicado há três anos.

«Temos médicos de família em Portugal suficientes para dar um médico de família a todos os portugueses, mas, como temos um hiato geracional, neste momento há cerca de dois mil internos da medicina geral e familiar e, daqui a alguns anos, haverá especialistas para cobrir todo o país, se não emigrarem, mas se esta medida tivesse sido tomada há mais tempo todos os portugueses tinham médico», concluiu.