OM: Hospitais estão a «bloquear» pedidos de medicamento da hepatite C 614

OM: Hospitais estão a «bloquear» pedidos de medicamento da hepatite C
12-Junho-2014

A Ordem dos Médicos revelou hoje que há médicos pressionados pelas administrações hospitalares para não fazerem pedidos de autorização especial para o novo medicamento contra a hepatite C e que a maioria destes pedidos não chega ao INFARMED.

Numa conferência de imprensa promovida pela SOS Hepatites, a dirigente desta associação disse ter chegado ao seu conhecimento que em março havia 85 pedidos de Autorização de Utilização Especial (AUE) para o medicamento sofosbuvir, o único que dá para todos os genótipos da infeção.

Este medicamento foi aprovado na Europa em janeiro e aguarda atualmente aprovação pelo INFARMED. Enquanto isso não acontece, para cada caso mais grave, os hospitais têm de fazer um pedido de AUE, que é enviado, avaliado e aprovado, ou não, pela autoridade do medicamento.

A SOS Hepatites diz que os seus doentes se queixam de que os médicos fazem os pedidos, mas as autorizações e os medicamentos nunca chegam.

A este propósito, o bastonário da Ordem dos Médicos, que se associou a estes doentes, José Manuel Silva, disse ter informação de que «só chegaram dois pedidos ao INFARMED» e que estes foram autorizados.

Segundo o bastonário, «o problema não está no INFARMED, está nos hospitais, que bloqueiam a chegada dos pedidos».

«Sabemos que há médicos pressionados pelas administrações hospitalares para não fazerem seguir os pedidos», revelou.

A situação é tal – acrescenta – que «há médicos neste momento que têm medo de falar, porque lhes foi imposta a lei da rolha».

«Nós [Ordem] dizemos-lhes que devem tratar os doentes e fazer os pedidos de AUE de acordo com a evidência científica» e não cedendo à pressão dos CA hospitalares, porque «o bloqueio tem de vir de outrem», contou, citado pela “Lusa”.

José Manuel Silva apelou aos doentes para que peçam ao seu médico cópias dos pedidos de AUE e os enviem à Ordem, para que esta possa intervir e interpelar os CA hospitalares e denunciá-los publicamente.

«Com os pedidos na mão poderemos ser consequentes e fazer alguma coisa de facto», sublinhou.

Questionado pelos jornalistas sobre se já tinha conhecimento de algum caso de algum CA hospitalar em concreto que estivesse a fazer esse «bloqueio» às AUE, o bastonário respondeu afirmativamente, mas escusou-se a apontar, para já, os nomes, considerando que a responsabilidade última é do Ministério da Saúde.

«Sabemos de casos concretos, mas não é altura agora de revelar os hospitais. Têm dificuldades, que compreendemos, decorrentes da lei dos compromissos. Quem está a condicionar a posição do INFARMED e dos hospitais é o Ministério da Saúde. A responsabilidade é deles».