OM: Negócio com sangue é aceitável se reverter para o SNS 23 de Junho de 2015 O bastonário da Ordem dos Médicos considera «inaceitável» desperdiçar plasma resultante de um «ato generoso» dos portugueses, mas defende que se retire benefício financeiro do sangue doado para reverter a favor do Serviço Nacional de Saúde e dos doentes. José Manuel Silva falava à “Lusa” a propósito de um debate que a Ordem dos Médicos (OM) promove hoje à noite subordinado ao tema “Sangue e plasma: ciência vs preconceito; doação vs comércio; aproveitamento vs desperdício”. «A Ordem dos Médicos promoveu um debate para discutir estas questões que tem a ver com a necessidade de um mais conveniente e abrangente uso do plasma português. Não é aceitável desperdiçar, quando se tem um quantidade que permite ao país ser autossuficiente», afirmou. Para o bastonário, «não se pode aceitar o desperdício de um ato generoso dos portugueses», pelo que o debate pretende também chamar a atenção para a «obrigação ética e económica» do país aproveitar todo o plasma doado. Por outro lado, considera que apesar de o sangue não ter preço, pode e deve ter um valor de mercado, de forma a que possa ser negociado, tendo em vista o financiamento, por exemplo, dos tratamentos de que o sangue é alvo, para poder ser transfundido com segurança. «O tratamento do sangue é oneroso, implica custos que é necessário que alguém financie. Sendo a doação um ato benévolo terá que haver um componente financeiro no circuito, que deve ser controlado e reverter em beneficio de dadores e recetores», afirmou. Para José Manuel Silva, esta é uma ideia que «deve ser aceite com tranquilidade», que «não ponha em causa a doação benévola, mas permita aos doentes que, quando necessitem, tenham à disposição a utilização do sangue e derivados no controlo das suas doenças». «Há um emissor e um recetor que não devem ser onerados, mas no meio há todo o circuito que tem custos», sublinhou. Questionado sobre a possibilidade de, por exemplo, vender a outros países plasma remanescente, o bastonário considera que esta seria «uma forma de fazer reverter para os beneficiários do SNS [Serviço Nacional de Saúde] o ato benévolo de doação que gostaria que fosse mais amplo e tivesse uma resposta mais alargada para que o SNS nunca estivesse no limite das reservas de sangue e derivados». «Se essa doação benévola pudesse reverter para o SNS e para a saúde dos portugueses, não vejo qualquer problema de ética. Os doadores sentir-se-iam mais confortáveis de saber que, além de benefício direto, haveria um benefício indireto» defendeu. Em debate vão estar ainda questões como a segurança e os cuidados que é necessário ter «para reduzir à expressão mínima» o risco de transfusão de sangue ou derivados de sangue. «Está garantida a segurança, mas é preciso cuidados quanto aos critérios de seleção dos dadores e cuidados de preservação do sangue» afirmou, lembrando que em Portugal tem havido polémica quanto à orientação sexual dos dadores. O bastonário disse querer «de forma sustentada debater essa matéria» e afirmou-se interessado em ouvir especialistas na área, para debater com representantes de pessoas com diferentes orientações sexuais, como é o caso da associação ILGA, que estará presente no debate. O debate contará ainda com a presença do diretor do Serviço de Imunohemoterapia do centro Hospitalar Lisboa Norte, do presidente do colégio de especialidade de Imunohemoterapia e do presidente do Instituto Português do Sangue e Transplantação. |