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OMS acredita que vacina poderá chegar «demasiado tarde» para o surto de Zika

10 de Março de 2016

A Organização Mundial de Saúde (OMS) alertou ontem que uma vacina contra o vírus do Zika pode chegar «demasiado tarde» para ter um impacto real na atual epidemia na América Latina.

«O desenvolvimento das vacinas ainda está num estádio muito precoce e as candidatas mais avançadas ainda demorarão vários meses para poderem ser usadas em ensaios clínicos com humanos», disse a diretora-geral adjunta da OMS, Marie-Paule Kieny, acrescentando que «é possível que as vacinas cheguem demasiado tarde para o atual surto na América Latina».

Em declarações em Genebra ao fim de uma reunião de dois dias sobre a investigação relacionada com o vírus do Zika, a especialista sublinhou que a vacina é um «imperativo», especialmente para as mulheres grávidas e para as mulheres em idade fértil.

No entanto, o diretor do instituto de investigação brasileiro Butantan, Jorge Kalil, disse que o processo será lento: «Talvez dentro de três anos tenhamos uma vacina. Três anos, sendo otimista», citou a “Lusa”.

Na reunião, que juntou especialistas e representantes dos países afetados, os cientistas definiram como prioridades o desenvolvimento de testes de diagnóstico, a produção de vacinas para mulheres em idade fértil e a criação de instrumentos de controlo vetorial que permitam reduzir a população de mosquitos.

«O vírus do Zika induz uma infeção moderada e quase inofensiva na maioria dos pacientes», recordou Marie-Paule Kieny, explicando que, por esse motivo, a produção de medicamentos para tratar a infeção «parece menos prioritária nesta fase».

«A necessidade mais premente é o desenvolvimento de instrumentos de diagnóstico e prevenção para abordar a atual lacuna na investigação e para proteger as mulheres grávidas e os seus bebés», afirmou.

Um total de 67 empresas e instituições estão atualmente a tentar produzir testes, vacinas, medicamentos e produtos para controlar o inseto que transmite o vírus do Zika, anunciou ainda a OMS.

São 31 equipas a trabalhar em testes de diagnóstico, 18 focadas no desenvolvimento de vacinas, oito em terapêuticas e 10 no controlo vetorial, que se encontram em diferentes estádios de desenvolvimento inicial.

Nenhuma vacina ou medicamento foi ainda testada em humanos.

Segundo a OMS, a comunidade de investigação e desenvolvimento «respondeu vigorosamente» à necessidade de produtos médicos para o Zika e de medidas de controlo vetorial inovadores.

A rapidez com que a informação está a ser partilhada entre países é «um grande avanço relativamente à resposta da comunidade de investigação e desenvolvimento ao surto de Ébola» de 2014/15, pode ler-se num comunicado da OMS.

«Embora o desenvolvimento de produtos esteja numa fase mais inicial do que o do Ébola», disse Marie-Paule Kieny, a metodologia e a coordenação entre parceiros «está muito mais avançada, muito graças às lições aprendidas durante a epidemia de Ébola».