OMS e alterações climáticas: Agir pela saúde é “uma questão de vida ou de morte” 136

As alterações climáticas estão a deixar as pessoas doentes e agir rapidamente é “uma questão de vida ou de morte”, alerto a Organização Mundial da Saúde (OMS), pedindo que a saúde esteja no centro da COP29.

A 29.ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP29) decorre a partir de segunda-feira e até 22 de novembro em Baku, capital do Azerbaijão.

“A saúde é a experiência vivida das alterações climáticas”, resumiu Maria Neira, ontem, citada pela Lusa, diretora do Departamento de Ambiente, Alterações Climáticas e Saúde da OMS.

A COP28, realizada em 2023 no Dubai, incluiu pela primeira vez um dia dedicado à saúde e a OMS pediu mais, mostrando sem margem para dúvidas as ligações entre clima e saúde. Numa conferência de imprensa, a organização lançou dois relatórios sobre o assunto a propósito da COP29, um dos quais sobre a ligação entre alterações climáticas e saúde, ‘A saúde é o argumento para a ação climática’.

O outro é sobre os critérios para integrar a questão da saúde nas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC na sigla em inglês), as propostas de cada país para baixar as emissões de gases com efeito de estufa e manter o aumento da temperatura abaixo dos 2ºC, como decorre do Acordo de Paris.

“Desde os efeitos diretos dos fenómenos meteorológicos extremos e da poluição atmosférica até às consequências indiretas da perturbação dos ecossistemas e da instabilidade social, as alterações climáticas ameaçam a saúde física e mental, o bem-estar e a própria vida”, sublinhou a agência da ONU.

Adiantou que os impactos não são algo distante ou abstrato, sendo “sentidos agora através de temperaturas recordes na Índia, inundações mortais no Quénia e em Espanha, incêndios gigantescos na Amazónia e furacões nos Estados Unidos”.

Os benefícios económicos e de saúde associados à resiliência e à mitigação das alterações climáticas excedem em muito os investimentos necessários para as implementar, reafirmou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.

Priorizar a saúde e o bem-estar na luta contra as alterações climáticas é “um imperativo moral” e “uma oportunidade estratégica”, considerou, igualmente citado pela Lusa, adiantando que “a COP29 é uma ocasião crucial para os líderes mundiais integrarem considerações de saúde nas estratégias de adaptação e mitigação das alterações climáticas”.

A poluição atmosférica está associada a quase sete milhões de mortes prematuras todos os anos e o calor excessivo provoca problemas renais, acidentes vasculares cerebrais, doenças cardiovasculares e respiratórias, falência de órgãos e, por vezes, a morte.

A mudança das condições climáticas também possibilita a expansão geográfica de doenças infecciosas como a dengue, a malária, a doença dos legionários (Legionela) e a tuberculose.

Para alterar a situação, a OMS recomenda que a saúde seja “a principal medida do sucesso” da ação climática, que se acabe com a dependência e os subsídios aos combustíveis fósseis, que se invista em “soluções comprovadas” (sistemas de alerta ou energia doméstica limpa) e se reforce a proteção da natureza e da biodiversidade.

 

Ameaças à saúde continuam a bater recordes

O relatório Countdown on Health and Climate Change 2024 da revista científica The Lancet, divulgado no final de outubro, alertava para o facto das ameaças à saúde causadas pelas alterações climáticas continuarem a bater recordes, insistindo na transição rápida de uma economia baseada em combustíveis fósseis para uma com emissões zero.

“Para uma reforma bem-sucedida, a saúde das pessoas deve estar no centro de uma política dirigida à mudança climática, para garantir que os mecanismos de financiamento protejam o bem-estar, reduzam as desigualdades e maximizem os ganhos em saúde, especialmente no caso dos países e comunidades que mais precisam”, indicava a análise, que contou com o trabalho de mais de 120 especialistas académicos e de agências das Nações Unidas.

A propósito da publicação deste relatório, o secretário-geral da ONU, António Guterres, declarou: “Emissões recordes representam ameaças recordes à nossa saúde. Devemos curar a doença da inação climática – cortando emissões, protegendo as pessoas de situações climáticos extremas e acabando com o nosso vício de combustíveis fósseis – para criar um futuro mais justo, seguro e saudável para todos”.