ONU alerta para fraca qualidade dos medicamentos nos países do Sahel 328

Até metade de medicamentos nos países do Sahel são de qualidade inferior às normas ou são falsificados, alertou esta terça-feira (31) o Escritório das Nações Unidas contra a Droga e o Crime (ONUDC) num relatório sobre tráfico de produtos médicos.

O relatório do ONUDC concentra-se em cinco países daquela região de África: Mauritânia, Mali, Burkina Faso, Níger e Chade, países pobres que também são confrontados com violência multifacetada, incluindo a violência jihadista.

Os medicamentos velhos estão a ser desviados da cadeia de abastecimento da Europa e, em menor escala, da China e da Índia. Passam frequentemente pelos portos marítimos da Guiné, Gana, Benim e Nigéria antes de serem transportados para o Sahel.

“Embora não haja dados fiáveis sobre todas as quantidades traficadas sob diversas formas e rotas nos países do Sahel, os estudos indicam” uma percentagem de “medicamentos de qualidade inferior ou falsificados no mercado que varia entre 19 e 50%”, segundo o relatório da ONUDUC citado pela Lusa.

No Sahel e países vizinhos, “a elevada prevalência de doenças infecciosas como a malária, e os desafios em termos de disponibilidade e acesso aos cuidados de saúde criam um ambiente em que a procura de produtos e serviços médicos não é totalmente satisfeita através de canais formais”.

“Quando um produto (legítimo) é desviado da cadeia de abastecimento, há muito pouco (acompanhamento) sobre como deve ser utilizado”, diz François Patuel, chefe da unidade de investigação e de sensibilização do ONUDC.

E acrescenta: “Se quiser obter um antibiótico no mercado, pode obtê-lo. É ou não o mais adequado? Tem de ser monitorizado”. Estas deficiências contribuem para a resistência microbiana e antipalúdica, alerta.

As pessoas envolvidas no comércio vão desde empregados de empresas farmacêuticas a vendedores ambulantes, passando por agentes de segurança. Os grupos armados estão menos envolvidos no comércio, indica o documento.

“Apesar do envolvimento frequentemente publicitado de grupos terroristas e grupos armados não estatais no tráfico de medicamentos no Sahel, muitos dos casos documentados mostram que é limitado e gira em torno do consumo destes produtos médicos e dos impostos cobrados (sobre eles) nas áreas sob o seu controlo”, diz o relatório.

Os tratamentos ineficazes, associados a este tráfico de produtos médicos, reduzem a confiança no sistema de saúde e no governo, alerta ainda.