ONU: São precisos 29 mil milhões de euros/ano para acabar com a sida até 2030 15 de Julho de 2015 As novas infeções pelo VIH desceram mais de um terço desde 2000, mas serão precisos 29 mil milhões de euros por ano até 2020 para conseguir acabar com a sida até 2030, indicou ontem a ONU.
Em 2000, as Nações Unidas fixaram oito grandes Objetivos do Milénio para 2015, incluindo combater o VIH/SIDA (Vírus da Imunodeficiência Humana/Síndrome da Imunodeficiência Adquirida).
A luta feroz da comunidade internacional contra a sida – graças a milhares de milhões de euros investidos, dos quais metade pelos Estados Unidos – foi um êxito, de acordo com o relatório da ONUSIDA, apresentado pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, na conferência internacional sobre o financiamento do desenvolvimento, em Addis Abebe (Etiópia).
Entre 2000 e o ano passado, as novas infeções diminuíram 35,5% para dois milhões de casos. Ainda melhor, as novas infeções em crianças registaram uma descida de 58% no mesmo período.
As mortes relacionadas com a sida desceram 41%, para 1,2 milhões, desde o pico de 2004.
«O mundo atingiu o sexto objetivo do milénio para o desenvolvimento. A epidemia foi erradicada e invertida», afirmou Ban Ki-moon.
Em 2014, 83 países travaram a progressão da epidemia, incluindo algumas das nações mais afetadas como a Índia, Quénia, Moçambique, África do Sul e Zimbabué.
O relatório indica também que os esforços realizados permitiram atingir o alvo, fixado em 2011, de colocar 15 milhões de pessoas a receber tratamentos antiretrovirais (TARV) neste ano, contra apenas um milhão em 2001.
O número de pessoas que vive com o VIH/SIDA continua a aumentar – 36,9 milhões no ano passado, ou mais 700 mil que no ano anterior – por ser possível envelhecer com a doença, devido ao êxito das terapias antiretrovíricas, cada vez mais eficazes e acessíveis.
«Acabar com a epidemia da sida (…) até 2030 é ambicioso, mas realista», considerou Ban.
Para isso «são necessários esforços urgentes, de maior escala, nos próximos cinco anos», preveniu a ONU, que pede o investimento de cerca de 29 mil milhões de euros todos os anos até 2020. Este ano foram investidos 19,7 mil milhões.
Na eliminação da epidemia, a ONU fixou objetivos intermédios para 2020, com a fórmula “90-90-90”: 90% das pessoas infetadas com o VIH devem saber (atualmente só perto de metade sabe), 90% pessoas que conhecem a sua situação devem seguir um tratamento, 90% dos tratados devem ver a carga viral desaparecer (tornar-se indetetável).
Graças aos fundos, a ONU espera facilitar o acesso aos tratamentos em todo o mundo.
A organização pediu também uma descida dos preços das matérias-primas usadas no fabrico dos antiretrovirais e lamentou que apenas duas empresas partilhem 71% do mercado destes medicamentos.
O mercado dos meios de diagnóstico é também dominado em 90% por duas empresas, apesar de um aumento da procura.
O tratamento é uma ferramenta essencial para acabar com a epidemia da sida, mas não é a única, sublinham os peritos, que pedem mais esforços para desenvolver estratégias de prevenção, incluindo a distribuição de preservativos, a eliminação da transmissão mãe-filho (só conseguida, até agora, em Cuba), a multiplicação dos serviços de redução dos riscos para os toxicodependentes ou ainda na luta contra a violência contra as mulheres.
O relatório lamenta também que em 2014, 76 países continuem a criminalizar as relações homossexuais e 116 países a criminalizar os trabalhadores do sexo.
O diretor executivo da ONUSIDA, Michel Sidibé, explicou que as Nações Unidas contam com a chegada de uma vacina na próxima década.
A África subsaariana continua a ser a região mais atingida, representando 70% dos casos. Três países apresentaram mais de metade das novas infeções na região em 2014: Nigéria, África do Sul e Uganda. Mas a região da Ásia-Pacífico, menos afetada com apenas cinco milhões de pessoas seropositivas no ano passado, preocupa a ONU devido a um aumento dos casos. As novas infeções aumentaram 3% entre 2010 e 2014.
A China, a Índia e a Indonésia registaram 78% das novas infeções na região no ano passado. |