Optometristas fazem apelo para cuidados para a saúde da visão integrados no SNS e acessíveis às populações envelhecidas 224

A Associação de Profissionais Licenciados de Optometria (APLO) apela a que se assegure o acesso dos cuidados de saúde da visão à escala global, em particular em países com elevada percentagem de população envelhecida, com graves limitações no acesso e sem estratégia direcionada para estes cuidados como é o caso de Portugal.

“Portugal é o segundo país do mundo com média de idade mais elevada e por isso deve preparar-se para os desafios do envelhecimento e o consequente aumento das condições e doenças características desta faixa etária, como é o caso dos problemas de visão e oculares. Melhorar a saúde ocular no contexto de uma população envelhecida deve ser uma prioridade das principais entidades de saúde e decisores políticos”, adverte Raúl de Sousa, Presidente da Associação de Profissionais Licenciados de Optometria (APLO), que integra um painel de especialistas mundiais em saúde da visão que assinam o estudo ‘Grandes Desafios Globais da Saúde da Visão: processo de priorização global utilizando o método de Dephi’, publicado este mês, na revista científica ‘The Lancet Healthy Ageing’.

Com o “envelhecimento da população global, a necessidade de serviços de saúde da visão continuará a aumentar, particularmente no contexto de desigualdade generalizada no acesso e limitações de recursos e inadequado planeamento da força de trabalho na área dos cuidados para a saúde da visão no SNS. Foi desenvolvida uma lista global e listas regionais de Grandes Desafios para a Saúde da Visãol para uso imediato, e informando os Ministérios da Saúde sobre a estratégia necessária no investimento em cuidados de saúde da visão, pesquisa e inovação”, refere o estudo.

Desenvolvido com o objetivo de identificar os principais desafios e questões prioritárias, com vista a melhorar a saúde ocular no contexto global, aquele que é o mais recente trabalho de investigação no que respeita a cuidados de saúde da visão foi desenvolvido pela The Lancet Global Health Commission on Global Eye Health [Comissão de Saúde Global da Lancet sobre Saúde da Visão], com a participação de uma comissão de especialistas mundiais.

Nele participaram 336 profissionais de 118 países entre os quais EUA, Canadá, Reino Unido, Brasil, África do Sul, Espanha, Egipto, Israel, representando diferentes disciplinas em saúde pública e saúde da visão, incluindo Ministros da Saúde, especialistas na prática clínica, gestores de serviços de cuidados para a saúde da visão e investigadores.

Em representação de Portugal, participaram no estudo Helena P. Filipe, João Barbosa-Breda (Universidade do Porto) e Raúl de Sousa Presidente da Associação de Profissionais Licenciados de Optometria (APLO) identificando temáticas e os desafios proeminentes que devem marcar a agenda dos principais decisores do setor da saúde à escala nacional e internacional.

“Os problemas de saúde da visão aumentam com a idade, prevê-se que o número de pessoas que necessitam de cuidados para a saúde da visão aumente nas próximas décadas, excedendo os recursos atuais. Por exemplo, apesar das reduções na prevalência padronizada por idade da cegueira e deficiência visual, o número de pessoas a viver com perda de visão deve atingir os 1,8 mil milhões até 2050”, lê-se ainda no estudo agora publicado.

Incentivar os governos a priorizar a prestação de serviços de cuidados para a saúde da visão, centrados nas pessoas, assegurando Cobertura Universal de Saúde; identificar e implementar estratégias para melhorar a qualidade, produtividade, equidade e acesso à cirurgia de catarata; desenvolver e implementar estratégias baseadas em evidências para a efetiva integração dos cuidados para a saúde da visão, desde os cuidados de saúde primários até aos cuidados hospitalares, melhorando as vias de referenciação, que enquadram um conjunto de medidas apontadas como prioritárias pelos especialistas mundiais.

Por boa saúde da visão deve entender-se “o estado em que a visão, a saúde e a capacidade funcional da visão são maximizadas, contribuindo assim para a saúde e o bem-estar em geral, inclusão social e qualidade de vida”, refere “The Lancet Comissão Global sobre Saúde da Visão: visão para além de 2020”.

Consulte aqui o artigo:
https://www.thelancet.com/journals/lanhl/article/PIIS2666-7568(21)00302-0/fulltext