“Os farmacêuticos têm de perder algumas das suas funções clássicas” 882

Hélder Mota Filipe, bastonário da Ordem dos Farmacêuticos (OF), assumiu-se como “um europeísta convicto”, durante a conferência O Futuro do Projeto Europeu, organizada pela Associação Portuguesa de Jovens Farmacêuticos (APJF), que decorreu, em formato online, no dia 20 de maio.

Para o farmacêutico, “a Europa é tanto mais forte quanto os europeus participarem na sua construção”, sendo que, no respeitante à área do medicamento, em particular, “a maior parte da legislação não é nacional, é europeia e se queremos fazer parte da construção das regras pelas quais nos vamos reger, temos de nos envolver mais a nível europeu”.

O bastonário da OF indicou e comentou, durante a sua intervenção, um conjunto de áreas relevantes para os farmacêuticos:

Nova estratégia farmacêutica para a Europa

“É fundamental que estejamos envolvidos na sua implementação.”

Nova legislação farmacêutica

“Vai-nos impactar a todos (profissionais e sociedade) e resultar em mudanças significativas. É importante que estejamos informados sobre os objetivos desta nova legislação, que é bastante ambiciosa.”

Equidade no acesso aos medicamentos e emergências em saúde

“Muito do que consideramos ser prolemas nacionais, são na verdade europeus e até globais, que levam a que os nossos cidadãos não tenham a cesso aos medicamentos de que necessitam. É importante que contribuamos para a minimização deste efeito. O mesmo se aplica em termos da resposta às emergências: queremos uma Europa solidária, por isso é importante que haja uma verdadeira resposta europeia às emergências em saúde.”

Sistema europeu do medicamento

“É o exemplo de uma história de sucesso. Temos o sistema mais robusto que garante mais qualidade e maior segurança a todos os utentes a nível europeu. Os medicamentos importantes estão a ser aprovados por via centralizada, ou seja, ao mesmo tempo em todo o espaço europeu e isto é uma história de sucesso, de colaboração e de solidariedade entre os diferentes países.”

Ensaios clínicos

“No que toca ao desenvolvimento europeu relativamente à inovação em saúde e aos ensaios clínicos em particular, temos de ser mais competitivos em relação a outras geografias, a bem da nossa economia, das instituições e principalmente dos nossos doentes. É importante termos, dentro da estratégia europeia, uma estratégia forte a nível nacional e teimamos em não a ter.”

Sustentabilidade dos sistemas de saúde

“A maior rubrica a seguir à dos recursos humanos, nos hospitais, é a dos medicamentos e a tendência é que continue a aumentar. Todos temos de contribuir para que o sistema se mantenha sustentável, combinando com a sustentabilidade ambiental, que é cara.”

Task shifting

“É preciso discutir esta situação ao nível europeu. Não podemos continuar com uma visão conservadora das profissões de saúde. De certeza, que os farmacêuticos têm de perder algumas das suas funções clássicas para abraçar outras que a sociedade lhes pede devido às diferentes necessidades que vai tendo. Temos de participar nesta discussão sobre partilha e redistribuição de funções a bem da sustentabilidade dos sistemas e da capacidade de resposta às necessidades dos doentes.”