Os Futuros Farmacêuticos e a Prática Clínica 686

Quando somos jovens sonhamos diariamente com o nosso futuro. E tendemos a relegar para segundo plano as etapas que, inevitavelmente, têm de preceder qualquer prática responsável, como é o caso da prática clínica. Mais tarde, quando entramos na vida profissional e nos confrontamos com a realidade, percebemos que não basta gostar de fazer. Há que saber como se faz e compreender por que se faz.

Entendemos então que a prática pressupõe não só treino específico, como fundamentação e explicação científicas. Ou seja, teoria e prática não devem andar separadas e essa ligação deveria ser apresentada o mais cedo possível.
A prática é um horizonte indelével da formação em Ciências Farmacêuticas. Assim sendo, a ligação à prática deveria estar presente em cada etapa da formação do futuro farmacêutico.

Infelizmente, o feedback da realidade dos estudantes continua a ser no sentido contrário. Muitos assinalam a lacuna da componente prática durante a sua formação. E consideram que esta falha atrasa o desenvolvimento atempado de competências fundamentais para o exercício da futura profissão. Citando um estudante do Porto: «… a experiência de aproximação à prática clínica é quase nula. Esta não-aproximação resulta numa permanente especulação em relação ao futuro até ao final do curso e não me permite ir eliminando, ou adicionando, alternativas ao meu leque de opções de saída para o mercado de trabalho».

Dificuldades nas técnicas de gestão do tempo e na capacidade de comunicação estruturada e adequada são referidas como consequência da entrada pouco precoce da prática na realidade da formação em Ciências Farmacêuticas. E estas competências são desenvolvidas predominantemente em contextos próximos da prática clínica.

O Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas (Decreto-Lei 115/2013) inscreve a preparação dos profissionais em dois eixos: Curricular e Estágio. Aparentemente aquilo que é referido como eixos é na realidade encarado como duas etapas separadas e alinhadas sequencialmente. Seria conveniente, para a formação dos futuros farmacêuticos, que o ponto de partida do segundo eixo se encontrasse mais próximo do primeiro.

Diana Lopes Carvalho,
Presidente da APEF – Associação Portuguesa de Estudantes de Farmácia