“Os melhores farmacêuticos (…) estão a abandonar o SNS” 269

O bastonário da Ordem dos Farmacêuticos (OF) alertou hoje que os melhores profissionais desta área estão a abandonar o Serviço Nacional de Saúde (SNS), provocando uma situação nos hospitais que levará décadas a recuperar.

“Os melhores farmacêuticos, porque têm alternativas muito mais interessantes fora do SNS, estão a abandonar o SNS e estamos a criar uma situação que nem nas próximas décadas se consegue recuperar”, adiantou à Lusa, Helder Mota Filipe, no primeiro de três dias de greve dos profissionais das unidades de saúde públicas.

O bastonário salientou que “só alguém desprovido de alguma capacidade de compreensão é que podia deixar de concordar” com a paralisação dos farmacêuticos do SNS, alegando que se trata de uma classe que “desde 1999 não vê a grelha salarial atualizada”.

Hélder Mota Filipe deixou “uma chamada de atenção ao Governo” para a situação em que chegaram os farmacêuticos do SNS que “não permitirá nunca que os hospitais do SNS funcionem adequadamente”.

Nenhum país desenvolvido tem hospitais a funcionar adequadamente sem que o circuito do medicamento e a boa utilização dos medicamentos esteja assegurado”, defendeu o bastonário, ao salientar que aos farmacêuticos é também pedida atualmente uma maior intervenção, tendo em conta a constante inovação terapêutica e o surgimento de fármacos altamente complexos.

“Não sei como é que querem compatibilizar a situação precária, desumana até, como os farmacêuticos estão a ser tratados no SNS com hospitais modernos que garantam a qualidade da prestação de cuidados na situação em que vivemos”, lamentou o responsável da OF.

Depois de realçar que o papel da Ordem é garantir aos doentes a prestação da qualidade, Helder Mota Filipe referiu que em causa está uma profissão que tem muitas alternativas, apontando o exemplo dos profissionais “envolvidos nos ensaios clínicos no SNS, que estão a sair para hospitais privados ou para companhias que desenvolvem” este tipo de atividade.

O responsável defendeu ainda que, perante medicamentos que custam milhões de euros por tratamento, as poupanças que a intervenção dos farmacêuticos podem gerar “pagam a atualização da sua carreira e a contratação de mais uma quantidade” de outros profissionais para o SNS.

A greve dos farmacêuticos do SNS regista hoje uma adesão de 92% a nível nacional, com o pico a verificar-se na Madeira, com 96%, indicou o Sindicato Nacional dos Farmacêuticos (SNF).