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Pediatra Bilhota Xavier: Portugal arrisca-se a ser um «país de crianças tristes»

03-Mar-2014

O presidente da Comissão da Saúde da Mulher, Criança e Adolescente alertou na sexta-feira para o aumento de casos de angústia e depressão infantil, devido às dificuldades das famílias, e disse que Portugal se arrisca a ser um «país de crianças tristes».

Em declarações à agência “Lusa”, Bilhota Xavier disse que as carências das famílias demonstram-se de várias maneiras e refletem-se nas crianças desde muito cedo.

«Ficamos perplexos com as faixas etárias das crianças em que se detetam os cada vez mais frequentes problemas de ansiedade, angústias e depressões, algumas com oito, nove, dez anos», disse o pediatra.

Bilhota Xavier lembra que «as crianças, mesmo muito pequenas, são extremamente inteligentes e apercebem-se dos dramas que afetam os pais», disse. Na origem destes casos estão «as vivências dos pais desempregados que não têm dinheiro para sustentar a família», adiantou.

Segundo o presidente da Comissão Nacional da Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente, as crianças chegam a simular doenças para chamar a atenção, pois os pais estão ocupados a procurar rendimento para sustentarem a família.

«Estamos seriamente preocupados com este problema que está a aumentar», disse, alertando: «Portugal corre o risco de ser, no presente e futuro próximo, o país das crianças tristes».

A crise também tem levado muitas famílias a não frequentarem as consultas marcadas pelos médicos, com algumas a alegarem não ter dinheiro para o transporte e as refeições que estas deslocações implicam.

O pediatra tem assistido a uma cada vez maior dificuldade das famílias em acompanhar as crianças ao médico, pois receiam que as ausências dos empregos possam fazê-los perder o posto de trabalho. «É a espada do desemprego que está sobre a cabeça destas famílias», lamentou.

Ao nível dos problemas de saúde, Bilhota Xavier disse que «o leite de vaca está a ganhar terreno», encontrando casos em que este alimento é dado a crianças com onze e doze meses, quando a recomendação é que não seja dado antes de um ano de idade.

«Felizmente, há uma grande campanha em curso que promove a amamentação com leite materno», sublinhou, recordando que há 30 anos encontrava frequentemente crianças com três e quatro meses que bebiam leite de vaca, existindo na altura muitos casos de gastroenterites, algumas fatais.

Bilhota Xavier enalteceu os avanços alcançados nas últimas décadas na área da saúde infantil, receando o impacto que a crise possa ter nestes indicadores.

A este propósito, defendeu uma maior ajuda às famílias e, sobre o apoio à natalidade recentemente anunciado pelo governo, só lamentou que tenha chegado «tão tardiamente».