A Unicef alertou esta quinta-feira que a perceção pública da importância das vacinas infantis diminuiu durante a pandemia em 52 de 55 países analisados, incluindo Portugal, que registou uma queda de 6,5%.
“Em Portugal, a perceção da importância (da vacinação) para as crianças pré-covid-19 era de 98,2% e pós-covid-19 de 91,7%, uma diferença de 6,5%”, lê-se na síntese do relatório “Situação Mundial da Infância” divulgado esta quinta-feira.
O Fundo das Nações Unidas para a Infância especificou que a opinião sobre a relevância das vacinas para as crianças baixou mais de um terço na Coreia do Sul, Papua Nova Guiné, Gana, Senegal e Japão.
De acordo com os dados recolhidos pelo Vaccine Confidence Project (VCP) e publicados esta quinta-feira pela Unicef, a China, a Índia e o México foram os únicos países em que a perceção da importância das vacinas se manteve estável ou melhorou.
“Na maioria dos países, pessoas com menos de 35 anos e mulheres foram mais suscetíveis a relatar menos confiança em relação às vacinas para crianças após o início da pandemia”, conclui a Unicef.
No entanto, segundo o relatório, apesar das quedas, o apoio geral às vacinas infantis “permanece relativamente forte”, sendo que mais de 80% dos países inquiridos reconheceram a sua importância.
“Estes dados são um sinal preocupante. Não podemos permitir que a confiança na imunização de rotina se torne outra vítima da pandemia. Caso contrário, a próxima onda de mortes poderá ser de mais crianças com sarampo, difteria ou outras doenças preveníveis”, disse a diretora executiva da Unicef, Catherine Russell, citada em comunicado.
O relatório atenta que a conjugação de vários fatores “sugere que a ameaça da hesitação em relação às vacinas pode estar a aumentar”, como a incerteza sobre a resposta à pandemia, o acesso a informações fraudulentas, a diminuição da confiança nos peritos e a polarização política.
“De forma preocupante, a diminuição da confiança nas vacinas surge durante o maior retrocesso contínuo na imunização infantil em 30 anos, impulsionado pela pandemia de covid-19”, sublinhou a Unicef, recordando que “a pandemia interrompeu a vacinação infantil em quase todo o mundo”.
O relatório conclui ainda que um total de 67 milhões de crianças não foram vacinadas entre 2019 e 2021, com a cobertura vacinal a diminuir em 112 países.
Dos 67 milhões de crianças que não tiveram acesso à vacinação de rotina entre 2019 e 2021, 48 milhões não receberam uma única vacina de rotina – estas crianças são referidas como “zero doses”.
Em 2022, segundo a Unicef, o número de casos de sarampo foi mais que o dobro contabilizado no ano anterior e o número de crianças paralisadas pela poliomielite aumentou 16%.
“Ao comparar (o período de) 2019 a 2021 com o período de três anos anterior, houve um aumento de oito vezes no número de crianças paralisadas pela poliomielite, reforçando a necessidade de garantir os esforços de vacinação”, indicou.
No final de 2021, a Índia e a Nigéria – países que verificaram quebras na natalidade – registavam o maior número de crianças que não receberam nenhuma dose, mas o aumento no número de “zero doses” foi especialmente notável no Myanmar (antiga Birmânia) e nas Filipinas.
“As imunizações salvaram milhões de vidas e protegeram comunidades de surtos de doenças mortais. Sabemos bem que as doenças não respeitam fronteiras. Para prevenir futuras pandemias, é fundamental manter os sistemas de saúde fortes e as campanhas de vacinação em dia”, afirmou Catherine Russell.
A diretora executiva da Unicef sustentou que, com os recursos que ainda estão disponíveis da campanha de vacinação da covid-19, “é o momento de redirecionar esses fundos para fortalecer os serviços de imunização e investir em sistemas sustentáveis para todas as crianças”.