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Peritos contra a transferência de doentes com VIH para centros de saúde

28 de outubro de 2014

Um grupo de peritos, na sua maioria administradores hospitalares e médicos, é contra a transferência dos tratamentos de doentes com VIH para os centros de saúde, apesar de achar que cabe a estes diagnosticarem a doença, avançou a “Lusa”.

 

A ideia consta das conclusões do estudo “VIH/sida – Financiamento e Contratualização assente na eficiência e qualidade”, realizado pela Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), com o apoio de um laboratório, que serão hoje apresentadas em Lisboa.

 

O principal objetivo deste estudo foi «compreender se o modelo de financiamento do VIH/sida se adequa às boas práticas definidas para esta área de tratamento».

 

Para tal, foram convidados 295 peritos de diferentes áreas profissionais, sendo que o painel é composto maioritariamente por administradores hospitalares (33 por cento) e médicos (31 por cento).

 

Sobre a articulação entre hospitais e cuidados de saúde primários, 71% do painel considera que «não se deve equacionar a transferência dos doentes para o médico de medicina geral e familiar, mesmo com menor complexidade de tratamento».

 

No entanto, 87,1% dos peritos refere a importância dos cuidados de saúde primários para o diagnóstico precoce, concluindo que «o tratamento é reservado aos hospitais» e que os médicos especialistas têm dificuldade em dar alta para o tratamento nos centros de saúde.

 

Em relação aos indicadores sugeridos para monitorização do modelo de financiamento, uma larga maioria propõe o tempo desde a infeção e deteção, a adesão à terapêutica e o acesso à inovação. 

 

Os peritos reconheceram igualmente a obrigatoriedade de ser levada em conta a avaliação do próprio utente, relativamente ao sistema. 

 

«Em termos da articulação de cuidados é consensual que a reorganização passa por uma liderança clínica forte (74,2%) e pelo abandono de uma lógica de serviços em favor de uma abordagem multidisciplinar (83,9%)», lê-se nas conclusões. 

 

Uma larga maioria dos peritos (93,5 por cento) refere que «os utentes devem poder saber se estão a ser tratados numa unidade que segue o estado da arte e consideram que deve ser implementado um mecanismo de auditoria ao cumprimento das Normas de Orientação Clínica (NOC)».

 

A sua avaliação deve ser do domínio público, indicam 74,2% dos peritos.

 

Fatura com fármacos diminuiu 8%

 

Segundo o jornal “Público”, os últimos dados do INFARMED apontam para que nos primeiros oito meses do ano os hospitais tenham conseguido reduzir a fatura com os fármacos para o VIH/sida em quase 8%, o que decorreu da «redução do custo médio dos medicamentos desta área». No total, até agosto, os hospitais públicos gastaram 148 milhões de euros com os medicamentos antivíricos, o que faz com que representem quase 23% da fatura total destes estabelecimentos com fármacos.

 

O problema, para mais de 90% do painel, está no facto de os actuais sistemas de informação não reunirem informação suficiente que permita perceber se o dinheiro está a ser utilizado da melhor forma e no facto de os pagamentos não permitirem ter em consideração a complexidade de cada doente ou a inovação terapêutica, que pode fazer disparar a factura ainda que traga outras vantagens.

 

«Devemos evoluir para ter resultados clínicos que permitam fazer comparação e precisamos necessariamente de sistemas de informação inteligentes para acompanhar modelos de financiamento mais finos», advertiu a coordenadora do estudo, que insiste na importância de auditorias. 

 

Com esses sistemas seria possível acomodar alguns fatores que geraram consenso entre especialistas, como dar incentivos financeiros às unidades que tivessem conseguido diagnósticos mais precoces, em que os doentes aderissem mais aos tratamentos ou em que o acesso à inovação estivesse garantido.