Peritos: OMS não está preparada para lidar com surtos como o Ébola 08 de Julho de 2014 Um painel de peritos independentes alertou hoje que a Organização Mundial da Saúde (OMS) está impreparada para lidar com surtos como o do vírus Ébola, o que exige urgentes mudanças na instituição.
Num relatório muito crítico, o painel de peritos independentes, nomeado pelas Nações Unidas, considera que a OMS tende a responder às emergências com «uma abordagem reativa, em vez de proactiva».
Ao mesmo tempo, afirmam, a organização não tem respondido aos avisos feitos pelas equipas experientes que trabalham no terreno.
A OMS foi criticada pela lentidão na resposta ao mais recente surto de Ébola, que já vitimou mais de 11 mil pessoas, sobretudo em países da África Ocidental.
A organização declarou o estado de emergência de saúde pública mundial apenas a 8 de agosto, cinco meses depois do início do surto. E, mesmo depois disso, faltou a dirigentes e equipas da OMS uma «tomada de decisão independente e corajosa» para lidar com os governos dos países afetados.
A agência da ONU também não procurou contactar precocemente as comunidades locais nem comunicar o que devia ser feito para, por exemplo, reduzir o risco de infeção no enterro dos mortos contagiados.
«Até isso ser resolvido, é necessário manter elevados níveis de alerta», alertam os especialistas, citados pela “Lusa”.
O painel de peritos – liderado por Barbara Stocking, antiga presidente da organização Oxfam – acusou também os Estados-membros de não cumprirem com o seu dever de se prepararem para emergências globais e de terem ignorado os conselhos da OMS sobre encerramento de fronteiras e suspensão de voos, durante o surto de Ébola.
Porém, os especialistas rejeitaram as sugestões para que as emergências de saúde globais sejam assumidas por outra agência da ONU ou por um organismo novo a criar.
Ao contrário, apelaram a um maior investimento na OMS, pedindo, nomeadamente, 92 milhões de euros para o fundo de emergência e 5% de aumento nas contribuições regulares dos Estados-membros.
O painel defende que «a OMS precisa de fazer mudanças substanciais, particularmente nos processos de liderança e tomada de decisões», mas reconhece que a falta de fundos coloca a organização em «séria desvantagem».
Resolver a questão exige «vontade política dos Estados-membros» para assumir as suas responsabilidades em «levar a cabo essa transformação urgente», sustentam.
Os peritos recomendam a criação de um novo centro de emergências para responder e lidar com crises globais e apoiam o aumento de equipas de resposta rápida.
Mais de 99% das vítimas do Ébola concentram-se na Guiné-Conacri, na Serra Leoa e na Libéria, o país mais afetado, com cerca de cinco mil mortos, onde o vírus continua a ceifar vidas (no passado dia 1, mais dois doentes foram identificados, apesar de não se registarem casos há dois meses).
O vírus Ébola transmite-se por contacto direto com sangue, fluidos ou tecidos de pessoas ou animais infetados, provocando febres hemorrágicas que, na maioria dos casos, são fatais.
O contacto direto com outras pessoas ou cadáveres infetados tem sido o grande veículo de transmissão do vírus, para o qual não existe tratamento nem vacina.
Este cenário faz do Ébola um dos mais mortais e contagiosos vírus para os seres humanos, com uma taxa de mortalidade a rondar os 90%.
O Ébola tem fustigado o continente africano regularmente desde 1976, sendo o atual surto o mais grave desde então. Em 18 meses, o vírus infetou mais de 25 mil pessoas. |