Polícia moçambicana declara guerra a medicamentos nos mercados informais 09 de Novembro de 2015 A polícia moçambicana declarou guerra à venda de medicamentos nos mercados informais, tendo lançado em Chimoio, província de Manica, centro de Moçambique, uma operação relâmpago para desativar redes de vendedores e atendimentos clínicos ilegais. «A operação iniciada na segunda-feira pretende travar a proliferação de medicamentos nos mercados informais e cortar a logística que incentiva o roubo de fármacos nos depósitos e hospitais públicos», disse à “Lusa” Vasco Matusse, porta-voz do comando da Polícia de Manica. Milhares de moradores da província de Manica compram medicamentos nos mercados informais, alimentando um negócio geralmente assegurado por jovens sem qualificações farmacêuticas e que garantem também o atendimento clínico. O mercado informal é abastecido por medicamentos desviados do circuito das instituições públicas, geralmente envolvendo profissionais de saúde e farmácias de Chimoio. Tanto no mercado Feira como no 38 Milímetros, os mais movimentados de Chimoio, capital de Manica, produtos tradicionais africanos para curar males de amor disputam espaço com o antibiótico tetraciclina, usado para infeções bacterianas, artemisinina, paracetamol e Quarten, para malária, e canamicina, indicado para certas infeções sexualmente transmissíveis, entre outros. Alguns destes medicamentos, como a tetraciclina, tiveram o seu uso banido em determinadas situações pela Organização Mundial de Saúde. Os medicamentos são vendidos sem obedecer a padrões de transporte, manuseio ou administração, e não raras vezes são expostos ao sol e à chuva e colocados em contacto com inseticidas para eliminar baratas, mosquitos e ratos. Sem banca fixa, os vendedores transportam o produto em maletas ou nos bolsos. A assistência clínica aos pacientes, incluindo a aplicação de injeções, é feita em pequenos quartos nos fundos de armazéns, sem o mínimo de condições de higiene. Não são exigidas prescrições médicas aos compradores. Os prazos de validade dos medicamentos não podem ser verificados, porque os comprimidos são tirados das suas embalagens originais. «A minha mulher tem passado mal e um amigo recomendou comprar salferroso e fansidar com estes vendedores», disse à “Lusa” um comprador que se identificou como Júlio, 36 anos, num dos corredores de vendedores ambulantes no mercado 38 milímetros. Sem nenhuma receita médica, Júlio está obstinado em «salvar de mal-estar e enjoos» a mulher, que está no quarto mês de gestação do seu primogénito, e ignora os perigos que possam advir da ingestão dos medicamentos. «A forma como os fármacos são comercializados representa um atentado público, pois muitos dos medicamentos vendidos já são impróprios para consumo devido à forma como estão expostos», explica Firmino Jaqueta, médico-chefe provincial de Manica. Na segunda-feira, durante o lançamento da operação, a polícia apreendeu várias quantidades de fármacos no mercado Feira e deteve dois vendedores, por posse e venda ilegal de medicamentos. Vários outros conseguiram escapar. «Isso indica que no nosso controlo existem ainda alguns poros. Ainda há pessoas que conseguem tirar medicamentos dos depósitos e dos hospitais», lamentou Firmino Jaqueta, que olha com esperança para a operação da polícia para descortinar o «esquema do roubo». No ano passado, três técnicos de farmácias foram expulsos dos serviços de saúde em Manica por roubo e venda de medicamentos. Dois processos já foram instaurados este ano contra outros dois técnicos de farmácias, disse o médico. Os fármacos apreendidos na primeira atuação da polícia serão incinerados e os homens detidos levados a tribunal. |