Na última crónica falámos de como a atenção é importante devido ao facto de sermos bombardeados com milhares de mensagens publicitárias por dia. Um número que pode chegar aos 5.000. E repare que só estamos a falar de publicidade. Acrescente a isto todas as outras coisas que podem despertar a nossa atenção e principalmente o facto de que, a maior parte das pessoas, não tem especial interesse em ver anúncios… O primeiro passo é perceber um pouco o que é isso da atenção. Atenção vem do Latim “attendere”, que literalmente significa “esticar para”; a noção subjacente é a de estender a mente para alguma coisa. E é isso que nós fazemos quando damos atenção a algo, não é? Focamo-nos! Este focar faz com que a atenção funcione como um filtro de estímulos, atribuindo prioridades e, desse modo, só deixando alguns deles passar para um processamento mais profundo. Podemos dividir a atenção em duas grandes categorias: a atenção reflexiva e a atenção seletiva. No primeiro caso, a atenção é estimulada devido a um elemento externo, como por exemplo um som alto, movimento, contraste ou repetição. É, por isso, que os professores batem com a caneta no quadro ou na mesa quando os seus alunos se dispersam; estão a tentar que eles se foquem naquilo que ele lhes diz através de uma alteração externa. Já a atenção seletiva depende do nosso sistema nervoso central; ou seja, depende daquilo que nos motiva. Por exemplo, já reparou que quando estamos interessados em comprar um determinado modelo de carro parece que, de repente, vemos muito mais carros desses na rua do que víamos antes? Como se, de repente, toda a gente tivesse resolvido comprar o carro em que estamos interessados? A verdade é que o que mudou foi o nosso foco, passamos simplesmente a dar atenção a algo que nem reparávamos. O mesmo se passa com outras coisas. As leitoras que já estiveram grávidas ou tiveram alguém muito próximo nessa situação devem lembrar-se que, nunca como nessa altura, havia tantas grávidas na rua. Parecia que toda a gente tinha resolvido passar a ter filhos. Passado esse momento, pense lá há quanto tempo não vê uma grávida? Estranho, não é? Desapareceram todas? Claro que não, simplesmente a atenção mudou. É devido a esta força que a atenção tem que ela não pode ser esquecida numa mensagem publicitária. Assim, um anúncio deve conter algo capaz de estimular a atenção reflexiva – não podemos esquecer que as pessoas não estão especialmente interessadas em ver um anúncio – e ter elementos que vão ao encontro das motivações das pessoas, de modo a dirigir-se à sua atenção seletiva. Se não o fizer, corre o risco de desaparecer no meio da “multidão” de estímulos, tal e qual como as grávidas. João Barros, Professor Convidado na Escola Superior de Comunicação Social e Investigador no Centro de Estudos Clássicos da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa |