Segundo um estudo liderado pela organização Estrela+, de advocacia de pessoas portadoras do VIH em Timor-Leste, as pessoas seropositivas em Timor-Leste continuam a enfrentar discriminação no seio das próprias famílias, no setor de saúde e na sociedade em geral, incluindo casos de testes e esterilizações forçadas.
Este estudo, que contou também com o apoio do Governo timorense, das Nações Unidas e de outras organizações da sociedade civil, analisou pela primeira vez o estigma com que vivem portadores de VIH em Timor-Leste e o impacto negativo da discriminação com que vivem, que incluem casos de abuso físico e verbal.
O estudo ouviu mais de 80 pessoas que vivem com VIH em dez municípios e no enclave de Oecusse-Ambeno, que padecem do vírus desde há um ano e até há 15 anos.
O objetivo era medir o Índice de Estigma VIH, que foi desenvolvido pela Rede Global de Pessoas Positivas (GNP+) como instrumento para analisar a discriminação que pessoas seropositivas enfrentam em 90 países em todo o mundo.
Um dos problemas identificados pelo estudo é a realização de testes de VIH sem consentimento ou conhecimento de pacientes, dificuldades em acesso a medicação e serviços de saúde básicos. Para além disso, verificou-se que os funcionários dos serviços de saúde divulgam publicamente o estado de VIH de pacientes o que origina reações negativas quando a doença é revelada.
Cerca de 40% dos sondados disse que um funcionário dos serviços de saúde tinha dado a conhecer o seu estado de VIH a outras pessoas, sem o seu consentimento, quase 60% dos sondados dizem ter sido forçados a ser testados ou ter sido testados sem o seu consentimento, e cinco por cento dizem que foram obrigados a esterilizar-se desde a confirmação do diagnóstico.
Para além disso, o estudo revela problemas na gestão de gravidezes e na prevenção de transmissão entre mãe e criança.
Outro dos problemas verificado foi a falta de stock de medicamentos ou medicamentos fora de prazo – “apesar de Timor-Leste receber apoio financeiro internacional para comprar medicamentos antirretrovirais” – foi um dos aspetos denunciados pelos inquiridos.
A maioria das pessoas entrevistadas disse estar atualmente com “boa” ou “excelente” saúde, vivendo com condições sociais e económicas idênticas às da restante população.
O estudo revela ainda que o primeiro caso de VIH em Timor-Leste foi diagnosticado apenas em 2003, tendo o Ministério de Saúde registado até ao final de 2017 um total de 725 pessoas seropositivas, das quais apenas 287 têm acesso a tratamento antirretroviral.
Apesar de fundos nacionais e internacionais dedicados ao assunto, o estudo mostra que só cerca de 8 a 12 por cento das mulheres e 15 a 20% dos homens tinha informação sobre prevenção do VIH. Só 7% das mulheres e 26% dos homens sabem onde podem ser testados e apenas 4% da população fez testes.