Portugal aposta no tratamento do cancro baseado na física nuclear 639

Portugal aposta no tratamento do cancro baseado na física nuclear

 


20 de setembro de 2017

Portugal pretende ter, em 2022, uma unidade de saúde capaz de tratar anualmente 700 doentes com cancro recorrendo à física de partículas de alta energia, tecnologia eficaz e com menos efeitos secundários do que a quimioterapia.

A informação foi avançada à “Lusa” pelo ministro da Ciência, Tecnologia e do Ensino Superior, Manuel Heitor, que participou ontem em Viena, Áustria, na abertura da 61.ª Conferência Geral da Agência Internacional de Energia Atómica.

Manuel Heitor aproveitou a deslocação a Viena para recolher apoio técnico para o projeto por parte da agência, cujo diretor-geral, Yukiya Amano, disse, virá a Portugal em abril.

Portugal espera congregar ainda o apoio do CERN – Organização Europeia para a Investigação Nuclear, da qual faz parte, e da universidade norte-americana do Texas, com a qual reforçou a cooperação científica e tecnológica para as terapias oncológicas, adiantou, precisando que a cidade texana de Houston dispõe de uma unidade de tratamento de cancro com tecnologia nuclear de protões de alta energia.

Segundo o ministro, esta tecnologia, baseada em feixes de protões de “alta intensidade”, é também utilizada com aplicações na oncologia na Alemanha, no Reino Unido e na Suíça, estando a ser estudada em Espanha.

«É uma tecnologia que está a emergir no mundo (…), que permite o tratamento eficaz de cancros que não conseguem ser tratados com as tecnologias mais convencionais e reduz os efeitos secundários de tratamentos baseados na quimioterapia ou radioterapia», assinalou.

A nova unidade de tratamento de doentes com cancro, do Serviço Nacional de Saúde, que o ministro espera possa estar instalada nos próximos cinco anos, poderá vir a funcionar no campus tecnológico e nuclear do Instituto Superior Técnico, em Bobadela, Loures, aproveitando a «maior concentração de técnicos em ciências e tecnologias nucleares».

No fundo, é «reorientar muita dessa capacidade para as terapias oncológicas», acentuou, lembrando que a «possibilidade de formar mais técnicos» surgiu este ano letivo com a abertura de mais vagas no ensino superior em física, a pensar na aplicação médica.

O projeto, para o qual foi criado um grupo de trabalho, formado nomeadamente por representantes do ministério, do Instituto Superior Técnico e do Instituto Português de Oncologia de Lisboa, implica um investimento de 100 milhões de euros, que Manuel Heitor pensa poder ser suportado por fundos comunitários e por fundos reembolsáveis do Banco Europeu de Investimento.

Na abertura da 61.ª Conferência Geral da Agência Internacional de Energia Atómica, o diretor-geral, Yukiya Amano, recordou que o uso das tecnologias nucleares na saúde humana «ajuda a salvar anualmente milhões de vidas», realçando que a agência «trabalha com os governos para aumentar a experiência dos países em radioterapia e medicina nuclear».