Portugal não realiza transplantes para os quais tem capacidade 19 de Novembro de 2015 Portugal tem capacidade técnica para a realização de transplantes de útero e do rosto, mas ainda não os realiza devido ao investimento que exige, revelou o presidente da Sociedade Portuguesa de Transplantação. «Não que não exista capacidade técnica para isso, mas o investimento é tão grande e complexo que existem muitas outras áreas prioritárias», disse, citado pelo “Sol”. O transplante de útero já se realiza há alguns anos, tendo uma mulher, de 36 anos e nacionalidade sueca, dado à luz em 2014 depois de ter recebido um transplante de útero, conforme divulgou a revista “The Lancet”. Na segunda-feira, foi revelado o resultado do transplante de rosto mais completo até hoje. Trata-se de Patrick Hardison, 41 anos, um bombeiro do Mississippi, nos Estados Unidos, que ficou com o rosto queimado no combate a um incêndio. Patrick Hardison recebeu um rosto novo, couro cabeludo, orelhas, lábios, nariz e pálpebras. «São situações que ainda têm de ser consideradas no domínio da experimentação, esporádicas, dada a sua complexidade enorme», afirmou Fernando Macário, acrescentando que em Portugal não existe nenhuma equipa a pensar fazer isso. «Não que não exista capacidade técnica para isso, mas o investimento é tão grande e complexo que existem muitas outras áreas prioritárias», adiantou. A propósito do Fórum Aberto Sobre Transplantação de 2015, uma iniciativa da SPT que decorre sexta-feira e sábado, Fernando Macário sublinhou a «melhoria significativa nos últimos dois anos, em termos de colheita de órgãos». Para o presidente da SPT, «os órgãos que existem não são suficientes», apesar de uma melhoria significativa nos últimos dois anos. Fernando Macário lamenta que, apesar do aumento da taxa de colheita de órgãos por milhão de habitantes, existam outros problemas, como o facto dos novos dadores terem cada vez mais idade. Por esta razão, «muitas vezes vamos fazer colheita de órgão de pessoas já com patologias e nem todos os órgãos podem ser utilizados», adiantou. Fernando Macário dá o exemplo dos rins, que é o «mais flagrante», uma vez que entre 20 a 30 por cento dos rins colhidos «não podem ser utilizados porque já têm patologia que não permite serem colocados nas pessoas que precisam deles». «Temos, por um lado, um aumento da colheita, mas que não é suficiente para todos os doentes que se vão acumulando na lista de espera», adiantou. A lista de espera para transplante de rim era de 1.970 pessoas no final de 2014 e, destas, 43 morreram à espera. Dados da SPT indicam que a incidência de novos casos de doença renal é de 230 novos casos por milhão de habitantes e a prevalência é superior a mil doentes por milhão de habitantes, só em diálise. |