Portugueses de acordo e satisfeitos com vacinação sazonal nas farmácias, refere estudo 1310

Foi a 29 de setembro de 2023 que arrancou a a campanha de vacinação sazonal 2023/2024 contra a gripe e covid-19, para a população com 60 ou mais anos, alargada nesta temporada, pelas mãos do Ministério da Saúde e da Direção Executiva do SNS, às farmácias comunitárias. Cinco meses volvidos, e não sem que algumas polémicas ou comentários desfavoráveis se tenham ouvido, a Associação Nacional das Farmácias divulga os resultados preliminares de um inquérito de satisfação, realizado em parceria com a Spirituc Investigação Aplicada. As perguntas dirigidas aos participantes no questionário tiveram como objetivo determinar e avaliar as perceções e a satisfação da população perante o período já decorrido da campanha.

Num sentido mais lato, refere o documento que 98,8% dos participantes que escolheu ser vacinado contra a gripe e covid-19 o fez no mesmo local. O estudo releva ainda elevados níveis de satisfação para os vários locais de vacinação (centros de saúde e farmácias comunitárias aderentes) e nas várias dimensões analisadas: horário disponível, tempo de espera para vacinação, competência do profissional de saúde e a localização geográfica.

Estreitando as conclusões às farmácias, 94,8% diz concordar com a escolha destes locais para administração das vacinas, com mais de 60% dos participantes a indicar a acessibilidade, nomeadamente devido a questões como a proximidade e rapidez, como o principal motivo de escolha da farmácia comunitária.

Ao mesmo tempo, quase 9 em cada 10 participantes (88,3%), vacinados contra a gripe noutro local que não a farmácia, afirmaram que aceitariam igualmente ser vacinados na farmácia, existindo uma proporção sensivelmente próxima (85%) no que toca à vacina contra a covid-19.

A média de satisfação foi de 4,77 contra a gripe e de 4,76 contra a covid-19, numa escala de 1 (Muito Insatisfeito) a 5 (Muito Satisfeito). Estes números representam um aumento face à época vacinal passada (2022/2023), que já mereceu considerações bastante positivas dos participantes (4,48 e 4,39, respetivamente). Existe um aumento significativo de pessoas muito satisfeitas com a vacinação da gripe (77,9%) relativamente ao ano anterior (50,7%), o que também se verifica no caso da covid-19 (77,4% para 47,6%)

De acordo com os últimos dados da DGS, foram vacinadas 2,5 milhões de pessoas contra a gripe e 1,9 milhões de pessoas contra a covid-19, desde o início da campanha. As farmácias administraram 70% das vacinas contra a gripe e 69% do reforço sazonal contra a covid-19. Dados da Sociedade Portuguesa de Pneumologia indicam que 77,7% das pessoas com 65 ou mais anos de idade já terão sido vacinados contra a gripe sazonal, pelo que Portugal terá ultrapassado, para este grupo, a meta de 75% proposta pela Organização Mundial de Saúde.

Ema Paulino, Presidente da ANF, salienta ainda que “em colaboração com o SNS, as farmácias em todo o país aderiram massivamente à vacinação da população mais vulnerável contra a gripe e contra a COVID-19 e superaram o desafio com resultados muito positivos para a saúde pública”. “O nosso agradecimento ao empenho de todos os profissionais de saúde envolvidos, em particular às equipas das farmácias portuguesas, que reforçaram a sua relação de confiança com os portuguesas”, diz, segundo nota da associação.

Também sobre o assunto, Jaime Melancia, presidente da Plataforma Saúde em Diálogo, referiu que “é urgente descentralizar o acesso aos cuidados de saúde essenciais e os agentes governamentais devem estar sensíveis a isso. O alargamento da vacinação às farmácias foi crucial para os cidadãos, permitindo um acesso mais próximo e um tratamento mais personalizado, uma vez que cada farmacêutico conhece os seus utentes e aquilo de que precisam de forma mais imediata. Por outro lado, esta colaboração ajuda a uma maior sustentabilidade dos recursos do SNS, que assim ficam menos sobrecarregados com esta e outras ações”.

“Sim, os farmacêuticos têm correspondido ao desafio e os resultados falam por si”

Já durante o mês de janeiro, a vacinação nas farmácias comunitárias tinha suscitado um volume noticioso que colocava em causa a eficácia da estratégia adotada pela DE-SNS. Não só a Ordem e o Sindicato dos Enfermeiros colocaram em causa a habilitação dos farmacêuticos, como a Associação Nacional de Unidades de Saúde Familiar frisou que a cobertura vacinal estava abaixo da registada em anos anteriores. Também na altura, a líder do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, criticou “os maus resultados” da entrega da vacinação às farmácias privadas, “deitando fora” a experiência e a capacidade do SNS de prestar o serviço. A ANF e a própria DE-SNS reforçaram a eficácia da medida e o Netfarma, na mesma altura, falou com Carolina Mosca, presidente do Colégio de Especialidade de Farmácia Comunitária da Ordem dos Farmacêuticos.

Vacinação sazonal nas farmácias “foi mais um passo na asfixia do SNS”, garante Sindicato dos Enfermeiros

“Com a implementação destas medidas e o alinhamento com as melhores recomendações internacionais, foi conseguida uma cobertura vacinal superior à registada em anos anteriores e contrariar a tendência de redução de cobertura, motivada pela fadiga vacinal da covid-19, confirmada a nível internacional. E estes resultados são a evidência do sucesso da medida de inclusão da rede de farmácias como pontos de vacinação que permitiram claros ganhos de acesso e comodidade à vacinação por parte das populações, que passaram a poder vacinar-se em qualquer farmácia perto de si, no horário pretendido, sem necessidade de deslocações desnecessárias. Não quero imaginar como teria sido baixa a cobertura vacinal se as farmácias não tivessem sido incluídas”, começou por dizer.

A responsável recordou que o Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças e a OMS recomendaram aos países a melhoria de vários aspetos estruturares relativos à vacinação. Nesse sentido, a rede nacional de farmácias comunitárias foi chamada ao terreno da vacinação, “passando de um número anterior de 700 pontos de vacinação para mais de 3000 (um aumento de mais de 300%)”.

“O alargamento das faixas etárias incluídas na vacinação gratuita contra a gripe, passaram também a abranger as idades dos 60 aos 64 anos, aumentando assim a acessibilidade da vacinação gratuita para mais de 600 mil portugueses (foi a primeira vez que tal aconteceu nestes mais de 40 anos de SNS)”, destacou.

Estratégia de vacinação sazonal “não falhou”

Carolina Mosca referiu ainda que “as farmácias, pelas suas características em termos de acessibilidade e distribuição geográfica, são os espaços de saúde ideais para a prestação deste serviço. Graças à sua experiência e competência, os farmacêuticos enquanto profissionais de saúde próximos e acessíveis à população, desempenham um papel fundamental em várias áreas relacionadas com o medicamento, onde se inclui a dispensa e administração de vacinas. A melhoria da acessibilidade da população a estes serviços tem dado um importante contributo, nomeadamente, no aumento da cobertura vacinal contra a gripe”.

Adicionalmente, “cerca de 70% das vacinas foram administradas nas farmácias comunitárias [àquela data], onde mais de 7.000 farmacêuticos têm atualmente a Competência Farmacêutica em Administração de Vacinas e Medicamentos Injetáveis ativa, ou seja, mais 25% de farmacêuticos habilitados a administrar vacinas do que no final do ano anterior”.

“Sim, os farmacêuticos têm correspondido ao desafio e os resultados falam por si”, garantiu.