Portugueses descobrem bactéria que protege contra a malária 05 de dezembro de 2014 Uma equipa de investigadores do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC) descobriu que uma bactéria benéfica do intestino produz açúcar que gera uma resposta de defesa natural do organismo contra a transmissão da malária. Segundo a investigação, liderada por Miguel Soares, o parasita da malária, o Plasmodium, expressa uma molécula de açúcar, a alfa-gal, que também se manifesta na superfície de uma estirpe da bactéria E.coli, que existe também no intestino humano saudável. A molécula induz uma «resposta imune muito forte que protege contra a malária», afirmou à “Lusa” o investigador-principal. Numa experiência com ratinhos, Bahtiyar Yilmaz, aluno do programa de doutoramento do IGC no laboratório de Miguel Soares, verificou que a expressão da alfa-gal pelas estirpes benéficas de E.coli, quando existentes no intestino, «é suficiente para induzir a produção de anticorpos naturais anti-alfa-gal, que reconhecem a mesma molécula de açúcar na superfície do Plasmodium», refere uma nota do instituto. Os anticorpos ligam-se à molécula de açúcar na superfície do parasita imediatamente após a sua propagação à pele através do mosquito que transmite a malária, explica o IGC, acrescentando que o parasita morre antes de conseguir sair da pele. «O efeito protetor é tal que, quando presentes em altos níveis no momento da picada do mosquito, os anticorpos anti-alfa-gal conseguem impedir que o parasita transite da pele para a corrente sanguínea, e, ao fazê-lo, bloqueiam a transmissão da malária», assinala a mesma nota. Na experiência, quando eram vacinados contra uma molécula sintética de açúcar alfa-gal, que, de acordo com os investigadores, é fácil de fabricar a custos baixos, os ratinhos produziam «elevados níveis» de anticorpos anti-alfa-gal «altamente protetores contra a transmissão de malária por mosquitos». A produção de uma vacina deste tipo seria, para Miguel Soares, promissora, sobretudo para crianças das regiões endémicas da malária, com menos de 3 anos, que «são muito suscetíveis à doença», porque, a seu ver, provavelmente «não têm uma resposta imunitária» tão vincada como a dos adultos. A equipa chefiada por Miguel Soares, em colaboração com uma outra, dos EUA e do Mali, concluíra que numa região endémica de malária, no Mali, pessoas que apresentam níveis mais baixos de anticorpos contra a molécula de açúcar alfa-gal são também as mais propensas a ter a doença. O estudo, que foi publicado ontem na revista “Cell”, foi realizado pelo Instituto Gulbenkian de Ciência, em parceria com o Instituto de Higiene e Medicina Tropical de Lisboa, o Instituto Nacional para as Alergias e Doenças Infecciosas de Maryland, nos EUA, e as universidades de Melbourne (Austrália), Chicago (EUA) e de Bamako (Mali). O trabalho foi financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, pelo Conselho Europeu de Investigação e pala Fundação Bill e Melinda Gates. |