Portugueses pioneiros na técnica para reparar lesões na medula 22 de outubro de 2014 Britânicos revelaram ontem recuperação de um paraplégico graças a um autotransplante de células da mucosa olfativa. Estas células são usadas desde 2001 no Hospital de Egas Moniz e também há quem tenha voltado a andar. Darek Fidyka, um búlgaro que ficou paralisado há quatro anos, voltou a andar depois de submetido a um autotransplante de células das mucosas olfativas. A sua recuperação foi divulgada ontem. António Pereira, de Peniche, também ficou paralisado em 2004 e desde 2008 que consegue pôr-se de pé e dar alguns passos, graças a um autotransplante das células das mucosas olfativas, realizado no Hospital de Egas Moniz (HEM), em Lisboa. O êxito da técnica britânica que ontem foi notícia um pouco por toda a Europa foi publicado na revista “Cell Transplatantion”. A equipa coordenada por Geoffrey Raisman explicitou: «Do nosso conhecimento, esta é o primeira indicação clínica de efeitos benéficos de transplantes autólogos de células bulbares [na mucosa olfativa]». No entanto, a recuperação de movimentos de pessoas paralisadas usando as células das mucosas olfativas começou a ser feita em Portugal, em 2001, por uma equipa liderada pelo neurologista Carlos Lima (falecido em 2012). A técnica portuguesa foi aplicada a dezenas de doentes nacionais e norte-americanos, alcançando também resultados positivos. Alguns conseguiram voltar a andar, com apoio de andarilho, ou mantêm-se em pé. Este programa passou a contar, em 2003, com a parceria do Wayne State University, em Detroit. «Conseguimos melhorias muito importantes. Um deles não conseguia mexer-se e agora anda com a ajuda de um andarilho«, explicou ao “DN” Jean Peduzzi-Nelson, investigadora daquela universidade e conselheira da técnica desenvolvida em Portugal. Outros recuperaram movimentos e sensibilidade, como é o caso de António Pereira. O português, hoje com 42 anos, teve um acidente de mota em 2004 que o deixou condenado a uma cadeira de rodas e sem mobilidade. Depois de um ano de fisioterapia ouviu falar da técnica do HEM e decidiu candidatar-se. «Acabei por fazer exames em 2008 e fui escolhido para fazer a cirurgia. Não queria ficar dependente de ninguém». Antes da intervenção fez três meses de fisioterapia intensiva e dois meses depois voltou ao centro de reabilitação. Hoje, António Pereira, que trabalha numa loja de informática, consegue tomar banho sozinho, recuperou a sensibilidade e o controlo abdominal e da bexiga. E consegue andar com órtoses (apoio externo que dá estabilidade às pernas) e um andarilho, mas só em casa. «Ando muito devagar e para conseguir levar e buscar o meu filho à escola ou ir trabalhar vou de cadeira de rodas», contou. Mas garantiu: «A cirurgia do Dr. Carlos Lima mudou-me a vida». |