A pneumologista Sofia Ravara advertiu esta quarta-feira que os preços dos medicamentos antitabágicos são uma “barreira enorme” para os fumadores largarem o vício, defendendo a sua comparticipação para travar o consumo.
“Os fumadores gastam mais na terapêutica farmacológica do que no tabaco”, afirmou à agência Lusa a coordenadora da Comissão de Tabagismo da Sociedade Portuguesa de Pneumologia.
Sofia Ravara realizou um estudo com 500 fumadores da sua consulta antitabágica que mostra que é muito difícil para os fumadores deixarem de fumar.
“Dois terços ganham menos de 750 euros por mês e gastam em tabaco 20%, em média, do seu ordenado, sendo que aqueles com menor instrução e mais desfavorecidos gastam mais de 20%”, adiantou a especialista, sublinhando que se fumarem o tabaco de enrolar ou cigarrilhas em maço em vez dos cigarros de maço gastam menos de metade.
Por isso, defendeu um aumento de preço igual em todos os produtos de tabaco, porque senão os fumadores vão sempre substituir o consumo dos produtos mais caros pelos mais baratos em vez de deixarem de fumar.
Defendeu também a comparticipação do tratamento antitabágico, que pode chegar a 100 ou 200 euros por mês e a sua duração é de três meses seguidos, e propôs “uma comparticipação maior” para os fumadores que mais precisam.
“Seria uma grande ajuda para aumentar a eficácia da cessação tabágica” e também para evitar recaídas, disse, acrescentando: “É muito importante ser cada vez mais difícil encontrar locais onde se possa fumar, ser cada vez mais difícil encontrar sítios onde se possa vender tabaco e ser cada vez mais caro comprar tabaco”, salientou, aplaudindo as alterações à Lei do Tabaco anunciadas pelo Governo neste sentido.
“Há muito tempo que em Portugal não introduzíamos medidas novas que vão com certeza alcançar o progresso na prevenção contra o tabagismo”, enalteceu, salientando a importância de abolir as máquinas automáticas: “Seria bom que a proposta de lei aprovada na Assembleia da República incluísse abolição de todas as máquinas, o que já acontece na maioria dos países da União Europeia”.
Segundo a especialista, há estudos feitos recentemente em Portugal, financiados pela Comissão Europeia, que mostram que mais de 90% dos jovens menores dizem que “é facílimo” comprar tabaco.
“Isto acontece porque não há fiscalização da venda, porque os próprios jovens têm esquemas e pedem aos mais velhos para comprar, mas também porque existem estas máquinas de venda automática” que estão maioritariamente concentradas perto de estabelecimentos de ensino.
Apontou um estudo da Universidade da Beira Interior que revela que, à medida que os jovens vão progredindo na sua carreira académica, aumenta o consumo de tabaco, apontando como fatores associados ter amigos que fumam e conviver dentro da faculdade com fumadores.
“Claramente, o estudo mostra que também as universidades promovem o consumo e, portanto, a única maneira de conseguir ultrapassar é exatamente regulamentando o comportamento de fumar e também a venda do tabaco, para que haja menor distribuição destes pontos de venda de tabaco e para que haja a abolição das vendas automáticas perto dos estabelecimentos de ensino”, defendeu.
No seu entender, também é fundamental a abolição do ‘marketing’ da promoção dos produtos de tabaco que já está legislada em Portugal, mas na prática não é eficaz.
“Nós sabemos que a indústria infelizmente dá muito dinheiro para acontecerem eventos culturais, musicais em Portugal, o que corrompe, no fundo, os mecanismos de fiscalização e abre brechas nessa fiscalização”, lamentou.