Prémio Champalimaud Visão distingue cientistas no tratamento de doenças da retina 11 de setembro de 2014 Sete cientistas estrangeiros receberam ontem, em Lisboa, o Prémio António Champalimaud de Visão 2014, pelo desenvolvimento de uma terapia contra doenças da retina, controlando o crescimento desmesurado de vasos sanguíneos no olho, que leva à cegueira. O Prémio António Champalimaud de Visão, no valor de um milhão de euros, foi atribuído este ano aos investigadores Napoleone Ferrara, Joan Miller, Evangelos Gragoudas, Patricia D’Amore, Anthony Adamis, George King e Lloyd Paul Aiello, informou a Fundação Champalimaud, que concedeu o galardão. A terapia em causa, chamada anti-angiogénica (anti-crescimento de novos vasos sanguíneos a partir dos existentes), inclui o uso de dois medicamentos – Avastin e Lucentis – que permitem, de acordo com os cientistas, prevenir a cegueira ou recuperar parte da visão em doentes com retinopatia diabética ou degenerescência macular relacionada com a idade, em estado inicial. Napoleone Ferrara, que há 25 anos identificou, isolou e clonou a proteína responsável pelo crescimento anormal de vasos sanguíneos, associada ao crescimento de tumores e a doenças da retina que levam à cegueira, disse à agência “Lusa” que o prémio, o maior na área da oftalmologia, representa «a validação e o reconhecimento» do trabalho feito em colaboração com outros investigadores. Segundo o cientista italiano, da Universidade da Califórnia, em San Diego, nos Estados Unidos, a terapia usada após esta descoberta, e dos medicamentos com o inibidor da proteína sinalizadora, já permitiu tratar «milhões de pessoas» um pouco por todo o mundo. Ferrara adiantou que os fármacos «podem prevenir, na maioria dos casos, a perda de visão» em estádios da doença mais precoces, ou recuperar 30 a 40% da acuidade visual. Em 1989, o biólogo molecular descobriu que a proteína produzida em condições anormais pelas células que causava «crescimento excessivo, de forma descontrolada dos vasos sanguíneos» – a VEGF (Fator de Crescimento Endotelial Vascular) – acelerava o crescimento de tumores. Depois de a isolar e reproduzir, Ferrara desenvolveu uma molécula que bloqueia a sua ação irregular nas células. A molécula, a bevacizumab, deu origem a um medicamento, conhecido por Avastin, que é usado no tratamento de vários tipos de cancro, nomeadamente o da mama, mas também de doenças da retina, depois de outros cientistas, incluindo os restantes premiados, terem detetado semelhante efeito nocivo da VEGF na estrutura do olho, ou seja, de que o crescimento vascular danifica as células foto-recetoras da retina, afetando progressivamente a visão, até à cegueira. Na sequência dessas investigações, desenvolvidas nos Estados Unidos, foi produzido um outro medicamento para tratamento das doenças da retina, aparentemente com menos efeitos secundários no olho do que o Avastin, o ranibizumab, conhecido por Lucentis. Doenças da retina como a retinopatia diabética (derivada da diabetes) e a degenerescência macular relacionada com a idade são consideradas duas das principais causas da cegueira no mundo. Lançado em 2006, o Prémio António Champalimaud de Visão conta com o apoio do programa “2020 – O Direito à Visão”, da Organização Mundial de Saúde. Nos anos pares, o galardão distingue a investigação científica feita na área oftalmológica e, nos anos ímpares, o trabalho realizado por instituições na prevenção e no combate à cegueira e doenças da visão. O júri do prémio é composto por diversos cientistas e personalidades, designadamente o oftalmologista e professor José Cunha-Vaz, o ex-primeiro-ministro e atual alto-comissário das Nações Unidas para os Refugiados António Guterres, o ex-presidente da Comissão Europeia Jacques Delors e o Nobel da Medicina Susumu Tonegawa. A entrega do Prémio foi feita na sede da Fundação Champalimaud, em Lisboa, numa cerimónia presidida pelo Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva. |