Primeiro medicamento oncológico português testado com sucesso em tumores da cabeça e pescoço 04 de janeiro de 2017 O primeiro medicamento oncológico português mostrou resultados significativos no ensaio clínico de prova de conceito e foi assim dado um passo assinalável no tratamento dos cancros da cabeça e pescoço, disse hoje o responsável pelo ensaio. Lúcio Lara Santos, do Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto, responsável pelo ensaio clínico do primeiro medicamento oncológico português, explicou à agência “Lusa” que este passo assinalável no tratamento dos cancros da cabeça e pescoço abre a possibilidade de tratamento para outros tumores sólidos. A primeira fase do ensaio decorreu no Porto, no Instituto Português de Oncologia (IPO) e Hospital da CUF, com um grupo de doentes voluntários e com o objetivo de avaliar a segurança (tolerância) e o efeito antitumoral (eficácia) da Redaporfin, um fármaco fotossensibilizador produzido em Portugal que tinha demonstrado já uma grande eficácia em ensaios não clínicos em modelos animais. «Verificámos que o tratamento com este medicamento de tumores malignos da cabeça e pescoço (espinocelulares) revelou elevada segurança, uma vez que os efeitos colaterais e adversos foram raros, não foram severos e revelaram-se de fácil controlo», sublinhou o oncologista cirúrgico Lúcio Lara Santos, do IPO. O primeiro medicamento oncológico português começou a ser desenvolvido em Coimbra, a partir de 2010, pela empresa Luzitin, que nasceu a partir da Bluepharma, empresa farmacêutica que produz medicamentos para mais de 100 marcas, exportando 85% da sua produção para 40 territórios, entre os mais exigentes do mercado. Os ensaios clínicos tiveram início há cerca de dois anos e meio em doentes para os quais já «não existiam soluções terapêuticas», explicou Sérgio Simões, presidente da Luzitin, em declarações à agência “Lusa”. «O ensaio foi realizado num grupo restrito de doentes, nos quais se registaram resultados muitíssimo interessantes e que provam que o medicamento é seguro e não desencadeia efeitos secundários severos», frisou. O presidente da Luzitin salienta ainda que, no ensaio clínico, foi possível mudar a vida de alguns doentes que estavam em cuidados paliativos, impossibilitados de comer e falar, devido às características do tumor, e que após a terapêutica já conseguiam comer e falar. Antes de chegar ao mercado, o medicamento vai passar ainda por uma nova fase de ensaios com um grupo de doentes maior e depois, segundo Sérgio Simões, é necessário encontrar parceiros para financiarem o investimento para a sua produção. O responsável farmacêutico disse ainda que a Redaporfin pode ser usado como tratamento do cancro das vias biliares, tumor muito raro, mas extremamente severo e sem terapêutica. O medicamento vai também candidatar-se junto da Agência Europeia do Medicamento ao estatuto de “medicamento órfão”. «É uma mais-valia e vamos investir nesta área e utilizar as “vias-verdes” para as doenças raras para dar um salto importante e fazer o medicamento chegar o mais rapidamente ao mercado», sublinhou. Sérgio Simões prevê que, em 2020, o medicamento possa chegar ao mercado como terapêutica para os tumores das vias biliares. Lúcio Lara Santos, por outro lado, adiantou que o «efeito antitumoral observado foi muito rápido, destruiu a totalidade do tumor tratado e que este efeito parece ser sustentado ao longo do tempo», salientando que «a sua associação a outros tipos de tratamentos sistémicos parece ser também promissor». «Adicionalmente, a aplicação deste tratamento em doentes com outro tipo de tumores com prognóstico muito desfavorável, como o colangiocarcinoma, poderá conduzir a ganhos muito significativos para os doentes em termos de qualidade de vida e de sobrevivência», acrescentou. Perante os resultados obtidos, Lúcio Lara Santos considera que há razões científicas para que a comunidade envolvida no estudo e tratamento destes tumores venha a integrar esta opção terapêutica no protocolo de tratamento destes tumores. Segundo o especialista, posteriormente, será conduzido um novo ensaio clínico num número de doentes mais alargado, «o que permitirá definitivamente demonstrar o valor e os benefícios da terapia fotodinâmica com Redaporfin em oncologia». |