Problema de mortalidade excessiva na faixa dos 45 aos 64 anos tem de ser analisado, diz Francisco George 234

O presidente da Sociedade Portuguesa de Saúde Pública afirmou hoje que há “um problema de mortalidade excessiva” entre os 45 e os 64 anos que tem de ser analisado e estudado em pormenor.

“Este grupo tem uma subida de mortalidade que terá que ser analisada. É preciso ver se as pessoas em causa eram doentes, fumadoras ou se tinham outros problemas”, disse Francisco George à agência Lusa.

Para o antigo diretor-geral da Saúde, é necessário perceber, por exemplo, se estas pessoas faziam tratamentos, se eram asmáticas, se eram medicadas com cortisona, se tinham doenças oncológicas em tratamento.

“É preciso estudar em pormenor a causa da morte desses doentes e perceber se teriam ou não indicação para serem vacinados, porque há grupos de risco com indicação formal para serem vacinados”, defendeu, comentando que este fenómeno “não pode ser interpretado de um momento para o outro”, sem a realização de um trabalho de fundo.

Segundo o especialista em Saúde Pública, a Direção-Geral da Saúde está atenta não só à natureza causal, mas também à idade em que se verificam os óbitos, bem como as condições de cada doente.

“Esses trabalhos estão a decorrer e serão fundamentais para extrair ensinamentos para programas preventivos a aplicar no futuro”, disse, sublinhando que o problema da mortalidade “não pode ser ignorado”.

O médico observou, ainda, que historicamente, em Portugal, “a distribuição dos óbitos ao longo dos 12 meses do ano é muito desigual. Os meses de dezembro ou janeiro podem ter 11.000, 12.000 óbitos e o mês de agosto pode ter 7.000, 8.000, 8.500 óbitos”.

As infeções respiratórias, nomeadamente a gripe A (H1N1), estão a sobrecarregar as urgências hospitalares, mas Francisco George disse que há outras infeções de natureza viral que “são igualmente preocupantes”, uma das quais a covid-19, cuja vacinação está abaixo da cobertura desejável.

“É preciso insistirmos nestas questões da vacinação que é gratuita e muito eficaz, sobretudo, para reduzir os casos graves”, que são os que levam a população a procurar os serviços hospitalares.

“As pessoas que estão internadas em enfermarias ou nos cuidados intensivos são maioritariamente pessoas que não foram vacinadas. Portanto, há um maior risco de evolução grave da doença para quem não está vacinado”, tal como acontece com a covid-19.

Questionado sobre se as pessoas abaixo dos 60 anos, sem indicação para vacinação, deviam ser imunizadas, explicou que há limitação de vacinas, atendendo às quotas para os Estados importarem as vacinas fabricadas pelas empresas farmacêuticas, que têm em conta o consumo do ano anterior.

As vacinas não podem ser armazenadas, porque são diferentes a cada ano, resultando da análise feita às estirpes da gripe que circularam no hemisfério Sul.

“Os vírus da gripe têm um comportamento de mudança constante todos os anos. Costumo dizer que são mais camaleões do que os camaleões, porque os camaleões mudam apenas a cor da pele, mas os vírus da gripe mudam a sua natureza genética”, salientou.

Francisco George alertou também para “o problema organizativo” resultante da falta de médicos e de enfermeiros que está a provocar a situação de crise no Serviço Nacional de Saúde.

“Os problemas dos tempos de espera nos serviços de urgência não podem ser ignorados e terão que ser rapidamente resolvidos”, vincou, observando que este tipo de pressão não é a primeira vez que surge no inverno.

“Quando aumenta a procura, naturalmente, que a oferta em cuidados médicos têm igualmente que aumentar, porque se assim não acontecer entramos nesta situação de falta de resposta, que não é aceitável. Portanto, temos que encontrar em conjunto uma forma de resolver esta questão”, defendeu.

Por outro lado, a população terá de colaborar, evitando frequentar ambientes fechados com aglomeração de pessoas, manter o distanciamento, se necessário utilizar máscaras, e ter particular atenção à higiene das mãos.

Francisco George aconselhou ainda a população a contactar a Linha SNS24 ou o médico assistente, antes de se dirigir às urgências, “até porque a sala de espera do hospital é um local onde há riscos de transmissão das infeções respiratórias”.