Profissionais de saúde precisam de mais formação em competências digitais 298

Um estudo europeu, liderado pela Faculdade Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (NOVA FCT), revelou que a grande maioria dos profissionais de saúde não sabe utilizar ferramentas digitais necessárias, incluindo as aplicações de telemedicina que têm disponíveis.

É urgente, segundo o estudo liderado por Luís Lapão, da NOVA FCT, ampliar programas de formação em competências digitais para os profissionais de saúde, já que se verificou que a maioria dos profissionais de saúde não sabe utilizar as ferramentas digitais necessárias, desde aplicações de edição de texto às tecnologias e aplicações de serviços digitais mais avançados.

No primeiro semestre de 2023, o estudo Training Needs Assessment for the Design of Health Care Digital Transformation Courses in EU, cofinanciado pelo projeto EU4Health da Comissão Europeia, fez um levantamento das necessidades dos profissionais de saúde em Portugal, Bélgica, Letónia, Noruega e Itália, com enfoque nas competências digitais, desde os níveis básicos aos mais avançados. Os resultados do estudo são apresentados num paper que será divulgado em dois congressos científicos: no próximo dia 25 de junho, na IEEE MELECON 2024, no Porto; e entre os dias 13 e 15 de novembro, na European Public Health Conference 2024, em Lisboa.

Entre os variados dados do estudo, destaca-se a incapacidade de utilizar” corretamente as ferramentas digitais, que contrasta com um setor em contante inovação e implementação de processos digitais.

Segundo os profissionais de saúde inquiridos, 53% reconhece que tem algumas competências digitais de informação e comunicação, desde aplicações de edição de texto aos aplicativos de comunicação interna (exemplo, Microsoft Word, MS Teams), mas somente 27% dos profissionais confirma conseguir utilizar estas ferramentas para resolver problemas no seu ambiente de trabalho na saúde. Relativamente a competências digitais avançadas, nomeadamente, utilizando ferramentas analíticas ou baseadas em “Internet of Things” (exemplo, smart devices, aplicações de telemedicina), 56% considera ter competências de análise de dados (exemplo, registos clínicos), mas apenas 21% dos inquiridos afirma dominar as soluções digitais que tem ao seu dispor, e 12% reconhece que estas tecnologias existem, mas não as utiliza.

O estudo conclui ainda que, segundo a necessidade e vontade dos profissionais, a formação deve ser em formato híbrido – apesar dos profissionais preferirem a formação presencial, diretamente no ambiente de trabalho, a investigação demonstra que o ensino online é eficaz, sobretudo na parte teórica. Os profissionais da saúde dominam e conhecem as soft skills, mas reiteram a necessidade e interesse de uma formação contínua, sobretudo em gestão de tempo e do stress.

“Num cenário de saúde em rápida evolução, a transformação digital da saúde é o presente e futuro inadiáveis.  Sem as competências necessárias, nomeadamente as digitais, este caminho toma um rumo insustentável para os profissionais e as equipas de saúde. Neste estudo ficam claras as reais necessidades dos profissionais da saúde, partindo de duas questões principais: que competências têm? e quais as competências que consideram necessário desenvolver? Os resultados revelam que é necessário apostar seriamente em formação de qualidade, a todos os níveis de cuidados, não esquecendo os cuidados primários de saúde, por forma a alcançarmos um ecossistema digitalmente capacitado, que acompanhe estes tempos de constante e rápida inovação tecnológica”, defende Mélanie Maia, investigadora do projeto e primeira autora do paper, em comunicado.

O Training Needs Assessment for the Design of Health Care Digital Transformation Courses in EU consistiu num inquérito e focus-groups, realizados a cerca de 400 participantes validados que representam a multidisciplinaridade dos profissionais da saúde: nutricionistas, radiologias, técnicos de laboratório, médicos, dentistas, parteiras, enfermeiros, terapia ocupacional, fisioterapia, assistentes sociais, entre outros (incluindo gestores e consultores), em cinco países europeus, incluindo Portugal.

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