Apresentado ontem, o estudo que avaliou o impacto do Programa abem: Rede Solidária do Medicamento, da Associação Dignitude, concluiu que durante o período de avaliação, entre maio de 2016 (quando começou o programa) e junho de 2021, foram poupados 15 milhões de euros ao Serviço Nacional de Saúde, devido ao apoio prestado a quem não tem capacidades financeiras para adquirir medicação prescrita.
Concluiu-se, entre outras situações, que o Programa abem: fez com que 6220 não pedissem dinheiro emprestado ou recorressem a familiares para comprar medicação.
“O que achávamos e que se concretizou foi que, ao nível dos beneficiários, o programa tem um impacto relevante na melhoria das condições de saúde nos mais de 22 mil beneficiários apoiados, pois conseguem, através do cartão abem, adquirir a sua medicação, cumprindo a sua terapêutica e, desta forma, melhorar a sua condição de saúde”, referiu Maria João Toscano, diretora executiva da Associação Dignitude.
À Netfarma, Maria João Toscano acrescentou e destacou que “em termos globais, aquilo que era mais relevante e possível de confirmar objetivamente e com dados foi que o Programa abem: tem impacto na vida das pessoas que estão a ser apoiadas”. A responsável sublinhou que está em jogo “não é só saúde” a nível individual, mas também o global da saúde comunitária.
“O cumprimento da terapêutica resulta numa melhoria da condição de saúde das pessoas e isso leva a que haja, em termos globais, menos idas às urgências e menos internamentos. Com a doença controlada, porque muitos dos beneficiários são doentes crónicos, impacta a sua saúde mas não só”, frisou, assinalando ainda como foram, através da rede em questão, “poupados ao SNS mais de 15 milhões de euros”. “Não tínhamos a perceção e é um dado muito relevante”, acrescentou Maria João Toscano.
Foram 15 milhões de euros mas, como também afirmou a responsável, uma extrapolação das 22 mil pessoas apoiadas para as 864 mil em Portugal que todos os anos deixam de comprar medicação por não a poderem pagar, juntamente com uma alocação de 147 milhões de euros, resultaria numa “poupança de 640 milhões de euros” ao SNS.
“O programa tem muito impacto na vida das pessoas, até pela inclusão que acontece de uma forma inovadora. Uma das preocupações do programa era a dignidade com que o acesso à medicação seria feito e não há mais dignidade do que ir onde todos os outros vão [farmácias] sem exposição. O número de beneficiários que refere este facto é bastante relevante”, acrescentou Maria João Toscano.
Lembrando que as “fórmulas existentes anteriormente para as pessoas eram de uma exposição constante sempre que havia uma receita para aviar”, destacou como a reavaliação dos casos e do apoio prestado pelo programa é feito de uma “forma recatada”. “Não estamos a falar de um bem de consumo, mas de um bem essencial à vida. É importante haver requisitos de dignidade e humanidade. Estes beneficiários são pessoas que têm de estar sempre a decidir entre o medicamento ou alimento. Isto tem muito impacto na sua qualidade de vida, ficam com a capacidade de fazer face a outras despesas sociais”, referiu.
A finalizar, Maria João Toscano, admitindo que são “apenas questões lançadas”, porque a Dignitude não quer “dar respostas sem evidências”, frisou como, muito provavelmente, existe ainda um “impacto ao nível da Segurança Social e dos subsídios”. “Estas pessoas vão ter menos baixas por estarem doentes, menos subsídio de doença associados porque vão ter as coisas mais estabilizadas”, concluiu.