Projeto do Porto recebe 1ME para criar fármacos que inibam resistência aos antibióticos
07 de maio de 2018 Uma equipa da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) recebeu um financiamento de um milhão de euros de fundos comunitários para desenvolver novos fármacos que permitam inibir a resistência das bactérias aos antibióticos. «Cada vez mais deixamos de ter agentes antimicrobianos que consigam combater as infeções, principalmente ao nível das bactérias multirresistentes», disse à agência “Lusa” o professor Nuno Azevedo, do Departamento de Engenharia Química da FEUP. O ritmo de aparecimento de estirpes resistentes aos antibióticos «é bem maior do que o desenvolvimento de novos antibióticos», havendo necessidade de «arranjar novas maneiras de as combater», frisou o líder do projeto. Financiado pelo programa Horizonte 2020 (H2020), este projeto assume, assim, «particular importância, numa altura em que as notícias de surtos de bactérias resistentes a antibióticos são cada vez mais recorrentes», indicou o também investigador do Laboratório de Engenharia de Processos, Ambiente, Biotecnologia e Energia (LEPABE), da FEUP. Segundo Nuno Azevedo, o grupo de investigação que lidera tem-se dedicado a estudar e a desenvolver métodos alternativos de tratamento antibacteriano, através do uso de «mímicos» de ácidos nucleicos (macromoléculas que formam o DNA e o RNA). A equipa pretende «desenhar moléculas compostas por esses mímicos, que se conseguem ligar ao ADN ou RNA do microorganismo em locais específicos, provocando a inibição de determinados genes essenciais à sobrevivência do microorganismo e levando, por consequência, à sua morte», disse. Uma das vantagens deste método, explicou, é trabalhar com moléculas que se comportam da mesma maneira que o ADN e o ARN presentes em todos os organismos, mas que não são degradadas por enzimas bacterianas. Além disso, «se o microrganismo tiver uma mutação que lhe confira resistência à molécula, muito facilmente conseguiremos redesenhá-la e alterá-la para combatê-lo novamente», indicou o investigador. Os investigadores da FEUP estão igualmente a desenvolver sistemas de entrega desses mímicos no interior dos microorganismos, recorrendo ao uso de nanopartículas. Esta trata-se de uma abordagem que tem sido utilizada para o tratamento de células cancerígenas, mas cuja aplicação em micoorganismos não foi ainda testada, «o que poderá representar uma importante alternativa ao tratamento tradicional com antibióticos neste tipo de infeções», acrescentou o professor. O projeto terá a duração de três anos, durante os quais a equipa procurará estabelecer a área de investigação, desenvolvendo as capacidades ao nível da tecnologia e logística. No futuro, com base nos resultados obtidos, o grupo tenciona desenvolver novos agentes antimicrobianos, que possam ser adaptados consoante as mutações das bactérias, mantendo assim a eficácia. Este projeto conta com a colaboração do Nucleic Acid Centre of SDU, da Dinamarca, que desenvolve mímicos de ácidos nucleicos, e do Laboratory for General Biochemistry and Physical Pharmacy, da Universidade de Ghent (Bélgica), que cria estratégias para a entrega de ácidos nucleicos em células animais. |