Projeto inovador quer prevenir VIH nas populações migrantes em Portugal 28-Fev-2014 Um projeto inovador em Portugal vai levar informação sobre prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e desenvolver rastreios, junto das populações migrantes, com o objetivo de diminuir as infeções e fazer um levantamento da sua prevalência nestas comunidades. Este projeto surge porque a evidência tem mostrado que a população migrante apresenta um risco aumentado de infeção pelo VIH, pelas hepatites C e B e pela sífilis, resultante das condições e das características dos processos migratórios, explicou à “Lusa” Daniel Simões do Grupo de Ativistas sobre Tratamentos de VIH/Sida (GAT), uma das associações promotoras. A natureza do seu estatuto legal, as barreiras linguísticas e culturais, a falta de informação, a exclusão social, assim como um tendencial menor acesso aos serviços de saúde potenciam o isolamento e colocam os imigrantes em maior risco de exposição a infeções sexualmente transmissíveis, acrescentou. Além do GAT, a Associação para a Prevenção e Desafio à Sida (SER+) e a Associação de Intervenção Comunitária Desenvolvimento Social e de Saúde (AJPAS) são as organizações promotoras do projeto, que vão estar no terreno em três zonas geográficas da Grande Lisboa (Cascais, Lisboa, Amadora, Sintra), a partir de abril, disse Daniel Simões. O mês de março será totalmente dedicado à formação de técnicos e de mediadores comunitários, assim como ao mapeamento das regiões a abranger. «Vamos promover o rastreio de doenças sexualmente transmissíveis em comunidades migrantes e perceber qual o nível de informação que estas comunidades têm. Simultaneamente vamos ligar as pessoas que necessitem aos serviços de saúde», adiantou. Como ponto de partida, as três associações contam com os «contactos que já têm no terreno»: o GAT tem um centro de rastreio na Mouraria, a SER+ já teve uma experiência de rastreio comunitária, e a AJPAS tem experiência de trabalho com comunidades da Amadora e de Sintra. «Vamos aumentar a nossa área de intervenção, em termos geográficos e em termos de equipa técnica, para distribuir informação nas zonas, divulgar o serviço de rastreio e tentar encaminhar as pessoas para o fazerem», disse. Paralelamente, as associações vão tentar fazer parcerias, para que haja rastreios não só nos seus espaços, mas também noutros espaços, como associações de imigrantes. Quanto a dados sobre a prevalência destas infeções, entre os imigrantes em Portugal, não existem, e esta foi uma das razões de ser do projeto, que pretende assim responder ao desafio levantado pelo programa de prevenção do VIH, no sentido de se obter mais informação atual e aprofundada sobre as prevalências. «O que se sabe é que as comunidades migrantes oriundas destes países – principalmente África Subsariana, mas também outros países africanos – têm tendência para ser mais facilmente infetados. Além disso, sabe-se que, nas comunidades de risco destes países, há prevalências na ordem dos 50%, designadamente de hepatite C». Este projeto, que é apresentado hoje em Lisboa, foi um dos 14 trabalhos que distinguidos pelo Programa Gilead GÉNESE, em janeiro, que lhe atribuiu 30 mil euros (dez mil por cada associação) para um ano. Este valor «não cobre o total do projeto, mas é um bom motor de arranque», afirmou Daniel Simões, acrescentando que as associações vão continuar a procurar novas fontes de financiamento e de sustentabilidade para poder continuar. |