PRR para a Diabetes quer menos pessoas com diabetes, mais acesso aos melhores cuidados e melhores resultados em saúde em Portugal 364

São três os objetivos fundamentais do Plano de Reconstrução para a diabetes, divulgado pela iniciativa “Um PRR para a Diabetes – A Oportunidade é Agora”. Promovida pela Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH) e a Novo Nordisk, com o apoio técnico da MOAI Consulting, pretende constituir-se como uma plataforma de estímulo à reflexão em torno dos desafios na área da diabetes, contribuindo para a identificação daqueles que se consideram ser os eixos de intervenção prioritários nesta área.

Face a um diagnóstico complexo e multifatorial da realidade da diabetes em Portugal, significativamente agravado pelo impacto da pandemia, a iniciativa “Um PRR para a Diabetes – A oportunidade é agora” defende a necessidade da existência de um exercício de ampla planificação estratégica que alavanque inovação estrutural nos modelos operacionais e uma resposta ao universo de desafios adjacentes à diabetes.

As três prioridades

O plano anunciado esta sexta-feira aponta os três objetivos prioritários defendidos pelo Steering Committee e pela Task Force que integram o projeto “Um PRR para a Diabetes”:
• Menos pessoas com diabetes: Prevenir, mitigar ou reverter a prevalência da diabetes, atuando na sua forte relação causal com fatores de risco bem identificados, como a obesidade, o sedentarismo e as condicionantes socioeconómicas. O sucesso passa pela estabilização da incidência da diabetes e obesidade até 2030, pela definição e análise contínua de indicadores de sinalização e controlo da pré-diabetes nos Cuidados de Saúde Primários, pela melhoria nos estilos de vida na população e pela implementação de uma Estratégia Local para Prevenção da Diabetes em 100% de ACES/Municípios até 2030;
• Mais pessoas com acesso aos melhores cuidados: isto é, aumento do número de pessoas com diabetes com acompanhamento adequado nos Cuidados de Saúde Primários e o alcance de um conjunto de metas, entre as quais: a definição e implementação de rácios adequados de cobertura de equipa multidisciplinar da patologia, 100% de Unidades Coordenadoras Funcionais da Diabetes com Protocolo de Integração de Cuidados e 100% de cobertura nacional da Plataforma Digital Centralizada para a gestão do doente;
• Melhores resultados em saúde: Pretende-se estimular a disseminação de boas práticas intra e inter níveis de cuidados, de forma a que, gradualmente, mais pessoas com diabetes possam beneficiar de modelos inovadores, geradores de melhores resultados em saúde e, idealmente, de mais eficiência na alocação de recursos. Para o fazer, o plano defende a criação e avaliação de métricas de qualidade de vida e experiência do doente, a redução dos valores reportados de carga de doença associada à diabetes em 25% até 2030, a criação de um repositório de boas práticas assistenciais e desenvolvimento de um Registo Nacional da Diabetes.

Para alcançar estes objetivos, o Steering Committee e a Task Force definiram seis áreas de intervenção e respetivas linhas de ação:
• Prevenção: Um dos pilares fundamentais da proposta de intervenção, que deverá envolver todos os setores da sociedade através da promoção da literacia em saúde e do reforço de ferramentas de estratificação de risco e da resposta atempada e holística;
• Educação: Capacitar o cidadão para o processamento de informação de saúde, envolvendo e formando pessoas com diabetes e pré-diabetes, cuidadores e equipas de saúde;
• Capacidade resolutiva: Por muito eficaz que seja um diagnóstico de desafios e prioridades, é crucial garantir a capacidade de resposta atempada, proativa e eficaz às necessidades. Para o fazer, as linhas de ação apontadas são a inovação e o investimento na gestão de recursos humanos e a promoção de experiências de integração e multidisciplinaridade;
• Governação e cooperação: Defendendo a ideia de que a diabetes deve ser encarada como doença social, a visão e aposta de reforço das intervenções praticadas em contexto comunitário ganham um lugar de destaque. Isto deve ser conseguido através da capacitação das Unidades de Cuidados na Comunidade, implementação plena do Plano Individual de Cuidados, parcerias multissetoriais na comunidade e intervenções comunitárias na modalidade de partilha de risco e responsabilidade;
• Inovação digital: neste ponto, o plano identifica como linhas de ação a construção de um ecossistema sólido de SI (sistemas de informação) e partilha de dados, modalidades inovadoras de monitorização integrada do doente crónico e modelos protocolados de telegestão da pessoa com diabetes;
• Modelo de financiamento: Os grupos de trabalho defendem uma reconfiguração para que este passe a assentar numa visão preventiva e de intervenção comunitária, através do desenvolvimento de um modelo de financiamento inovador, de visão populacional, que promova intervenções de cariz comunitário e a reformulação do conjunto de indicadores de desempenho associados à prevenção e gestão da diabetes.

Alexandre Lourenço, presidente da APAH espera “que esta iniciativa tenha um impacto significativo na forma como é gerida a diabetes em Portugal e que em 2030 o nosso país possa estar num outro patamar de prevenção proactiva, de acesso, de efetividade dos cuidados e de inovação nesta área. O setor da Saúde, por força da acumulação crónica de pontos de constrangimento e no rescaldo de uma sequência de meses de pressão organizacional sem precedentes, evidencia hoje argumentos em várias das suas dimensões que justificam um investimento setorial estratégico, como é o caso deste PRR para a diabetes”.

Esta ideia também é sublinhada por João Raposo, presidente da Sociedade Portuguesa de Diabetologia e membro do steering committee. O especialista explica que “os desafios na área da diabetes são claros e cada vez mais prementes: precisamos de diminuir o impacto da doença em Portugal e melhorar o acesso aos cuidados. Temos de tratar de forma mais eficaz e universal e apostar fortemente na prevenção, mitigando e idealmente revertendo a prevalência da diabetes. Este desígnio depende fortemente de mais inovação e compromisso na Educação e Promoção da Saúde, devendo ter por base o princípio de “diabetes em todas as políticas” e o instinto promotor de sinergias entre o setor da saúde e os demais”.

Já Jorge Caria, Diretor Médico da Novo Nordisk Portugal, também membro do Steering Committee, considera que “este é um projeto ambicioso e inadiável. Portugal figura como um dos países da UE em que a prevalência da diabetes tipo 2 e os indicadores relacionados com os fatores de risco modificáveis que lhe estão associados, dos quais se destaca a obesidade – apresentam valores mais elevados. É imperativo assumir a inovação na gestão da diabetes tipo 2 como uma prioridade de saúde pública, actuando nas suas causas visando a redução da prevalência e da incidência, de forma a aliviar o peso que esta doença representa para o indivíduo, para o sistema de saúde e para a sociedade portuguesa”.

A iniciativa “Um PRR para a Diabetes – A Oportunidade é Agora” junta 20 especialistas com o objetivo de definir um plano de ação que venha alterar o paradigma da resposta aos desafios da diabetes em Portugal. O evento público de apresentação e discussão das soluções propostas realiza-se hoje, às 10h, via streaming e no Auditório do Jornal Público.