Os partidos com assento parlamentar e o CDS já reagiram à demissão da ministra da Saúde. O PS agradeceu a Marta Temido por um “excelente mandato”, enquanto a oposição, da esquerda à direita, exigiu “novas políticas”.
“O PS quer hoje, de forma pública e inequívoca, dizer obrigado à dra. Marta Temido, obrigado pelos anos em que esteve à frente do Ministério da Saúde”, afirmou esta terça-feira o deputado e dirigente do PS Porfírio Silva, numa reação no parlamento à demissão da ministra, anunciada esta madrugada.
Porfírio Silva destacou “os anos terríveis” da pandemia covid-19, onde “Portugal teve dos melhores desempenhos mundiais”. “Obrigado, dra. Marta Temido, é a palavra que os portugueses e o PS têm para si”, afirmou o dirigente, acrescentando que a ministra fez “um excelente mandato e deu tudo de si”. Por fim, garante que “é impossível a qualquer governo ou qualquer governante fazer tudo o que há a fazer pelo país”.
Já o PSD considerou que a demissão da ministra da Saúde “peca por tardia” e representa a “falência da política de saúde do Governo”, pedindo “novas políticas” no setor, mais do que novos protagonistas. Na sede nacional do partido, em conferência de imprensa, o vice-presidente do PSD Miguel Pinto Luz assegurou que “são urgentes políticas novas” e que “a falência do SNS é da responsabilidade do dr. António Costa”.
O vice-presidente do PSD considerou que Marta Temido “está longe de ficar na boa memória dos portugueses” e salientou que as suas políticas ainda terão impacto “no curto, médio e longo prazo”. Miguel Pinto Luz acusou ainda o Governo de ter uma visão “doutrinária, ideológica” da saúde “que se tornou irrealista e perigosa”.
Chega fala em “fracasso”, liberais responsabilizam António Costa
À direita, André Ventura explicou que a demissão de Marta Temido era “uma situação absolutamente evitável, não fosse a degradação permanente e consecutiva dos serviços de saúde”. O líder do Chega lembra que o seu partido “apresentou uma moção de censura com o objetivo de demitir a ministra da Saúde” e foi “o único partido a votar essa moção favoravelmente”. “A situação não melhorou, como disse o Governo. Piorou. Mais serviços continuaram encerrados e os portugueses continuaram sem acesso aos cuidados de saúde”, disse, para declarar a demissão de Marta Temido como “o símbolo do fracasso e do desastre desta maioria absoluta”.
“A demissão da ministra da Saúde, anunciada esta madrugada, não significa, necessariamente, uma alteração das políticas que este Governo tem vindo a seguir na área da Saúde e que têm conduzido ao caos no SNS”, disse a IL, que assume a dúvida “se se demite uma ministra ou se se acaba uma política”. João Cotrim Figueiredo disse ser “essencial entender se o primeiro-ministro, que aceitou a demissão de imediato, está na prática a assumir o falhanço das opções políticas pelas quais é responsável”. O partido quer uma “reforma profunda do sistema”, baseada “na concorrência entre prestadores e na liberdade de escolha dos doentes”.
BE e PCP convergem na valorização dos profissionais no SNS
Mudar a ministra da Saúde “sem mudar a política não adianta absolutamente nada”, garantiu Catarina Martins. A coordenadora do BE aponta o dedo a “todo um Governo que decidiu não investir na capacidade instalada do SNS, que decidiu não acordar condições de trabalho para que os seus profissionais, formados no SNS, ficassem no SNS”. “O que é preciso neste momento é uma alteração não apenas de ministra, mas de política para o SNS e deixarmos este remendo permanente em que tudo o que o governo tem para oferecer são horas extraordinárias ou prestadores de serviços. O SNS precisa de “investimento e de profissionais com condições”, apelou.
Para o PCP, “mais do que as pessoas ou os rostos do Governo, aquilo que é importante é a necessidade de avaliação das políticas [encetadas]”. A líder parlamentar comunista, Paula Santos, sustentou que a demissão de Marta Temido revela “a necessidade de uma outra política na área da saúde” e instou o Executivo no “sentido da valorização das carreiras e das remunerações dos trabalhadores da saúde”, num regime de dedicação exclusiva.
PAN alerta para o “desgaste do SNS” e Livre critica “desistência”
A porta-voz do PAN afirma que “aquilo que tem sido o desgaste do SNS, a falta de respostas e até episódios mais graves, como tem sido ao nível da saúde obstétrica e da emergência maternoinfantil, levavam a que houvesse algum tipo de responsabilização política”. Inês Sousa Real pede que não se fique “pelas demissões de ministros, porque por muito que se mude o titular, se não mudarem as políticas e não passarmos a ter um maior investimento no SNS e valorização dos seus profissionais, certamente que não iremos conseguir ter um SNS mais robustecido e mais eficaz nas suas respostas”.
Já o Livre acredita que a demissão de Marta Temido “manifesta a incapacidade de fazer face aos muitos sinais de disfuncionamento e degradação” do SNS e “pode ser entendida como uma desistência” do Governo. “Sem uma ação decisiva na defesa do SNS e sem um governo com a coragem de tomar medidas que invertam a situação crónica de suborçamentação de que padece, quem quer que venha a suceder a Marta Temido poderá não vir a ser senão um gestor do declínio do SNS”, reiterou Rui Tavares.
Finalmente, o CDS-PP, sem representação parlamentar, considerou que a demissão já se justificava “há muito”. Nuno Melo assegura, contudo, que “a mudança de rosto não resolve um único problema estrutural do SNS”.
Ministra da Saúde demite-se porque “deixou de ter condições”
A ministra da Saúde, Marta Temido, apresentou na madrugada desta terça-feira a demissão por entender que “deixou de ter condições” para exercer o cargo, demissão que foi aceite pelo primeiro-ministro, António Costa.
Declarações citadas pela Lusa e TSF