Psiquiatria comunitária representa um «hospital para todos» 25 de Janeiro de 2016 O presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) afirma que o projeto de Psiquiatria Comunitária da instituição representa um «hospital para todos», próximo das pessoas. «O projeto de Psiquiatria Comunitária é resultado da visão de um hospital para todos, próximo das populações, aberto à sociedade, humanista e integrador. Em linha com o que é hoje um hospital moderno, o CHUC quer ser, cada vez mais, um hospital próximo das pessoas e a sair dos muros da instituição», disse à agência “Lusa” José Martins Nunes. Para o responsável da administração, o projeto que começou em 2011 com a Unidade de Saúde Mental de Leiria-Norte (municípios de Figueiró dos Vinhos, Alvaiázere, Ansião, Pedrógão Grande e Castanheira de Pera), abrangendo também o sul do concelho de Penela e o município de Pampilhosa da Serra (Coimbra) e que, atualmente, conta com mais quatro equipas que cobrem todo o distrito de Coimbra, «é um projeto ganhador, quer do ponto de vista da gestão quer do ponto de vista da população que serve». «[Representa] menos urgências, menos internamentos, menos custos, menos transtornos e dificuldades para os doentes e para as suas famílias, com deslocações ao hospital, com preocupações quanto à evolução da sua doença», argumentou José Martins Nunes. Já a psiquiatra Ana Araújo, da Unidade de Saúde Mental Comunitária Leiria-Norte, disse que o trabalho da equipa que coordena naquela área geográfica permitiu reduzir o volume de internamentos em cerca de 60%. Outros dados apontam para uma redução das faltas a consultas daquela especialidade – no centro de saúde de Figueiró dos Vinhos, onde a equipa se desloca duas vezes por semana, a percentagem de doentes faltosos cifra-se em 13,9% enquanto no CHUC atingia 21,5%. A média de idades dos doentes assistidos pela equipa de psiquiatria comunitária é de 55 anos e 30% tem mais de 65 anos. «A grande mais-valia deste projeto é que cuidamos das pessoas no seu espaço habitual, permite lidar com a doença mental como se lida com a doença física. Enviamos para o hospital aquele que precisa de cuidados hospitalares diferenciados, com internamento e tudo isso», frisou. «Há a ideia de que a organização comunitária de serviços de saúde mental é contra internamentos mas não é assim. Nunca esquecemos que somos médicos e enfermeiros especializados em saúde mental», adiantou Ana Araújo. Outras mais-valias decorrem da equipa «estar junto dos médicos de medicina geral e familiar», com quem partilha «dificuldades e vantagens» do projeto e permite «minimizar o estigma» da doença mental na sociedade. «O mapa geográfico está sempre na nossa cabeça, não esquecemos a origem das pessoas, as suas necessidades e dificuldades. Se vir cá [a Figueiró dos Vinhos] já é uma dificuldade, imagine-se ir a Coimbra. Temos doentes na Pampilhosa da Serra que nos dizem que se vão de táxi a Coimbra, ficam sem dinheiro para os medicamentos. Se compram medicamentos, já não podem ir à consulta a Coimbra. Têm de fazer opções desta gravidade», salientou. Ana Araújo recusa que a unidade que coordena seja um “anjo da guarda” da saúde mental junto das populações do interior, mas admite que as pessoas, nomeadamente os familiares dos doentes, façam essa apreciação. «São gratas por causa disso, porque nós estamos solidários com a dificuldade que têm de cuidar dos doentes. Temos a diferenciação técnica que nos permite atuar nestes casos, mas esse modo de observar a doença no seu contexto faz parte intrínseca da nossa maneira de estar como profissionais de saúde mental», frisou. «Claro que ficamos sempre muito contentes e é muito gratificante ver uma pessoa recuperar a sua saúde. Mas isso qualquer técnico de saúde sente, é sinal que cumpriu o seu objetivo», disse a psiquiatra. |