Quase 2 em cada 10 doentes diagnosticados com VIH/sida em Portugal não são seguidos
24 de julho de 2017 Quase duas em cada dez pessoas em Portugal diagnosticadas com VIH/sida não são seguidas nos serviços de saúde, o que representa quase oito mil doentes, e só menos de sete em cada dez estão verdadeiramente em tratamento. Estes são dados de um estudo que será apresentado esta semana numa conferência internacional em Paris e que analisa números referentes a 2014. O estudo exibe, pela primeira vez e de forma organizada, dados completos sobre a “cascata de tratamento” do VIH/sida em Portugal, segundo o especialista e antigo diretor do Programa Nacional para a Infeção VIH/sida, António Diniz. Neste trabalho, realizado por vários peritos portugueses, é analisado o ponto de situação nacional relativamente aos três grandes objetivos traçados pelas Nações Unidos para 2020, a tríade conhecida por 90 – 90 – 90. A primeira meta é ter 90% das pessoas que vivem com VIH/sida diagnosticadas, um objetivo já conseguido por Portugal. Os outros dois objetivos definidos pela ONUSida são alcançar 90% dos diagnosticados em tratamento e 90% dos que estão em tratamento atingirem carga viral indetetável (o que torna muito baixa a possibilidade de transmitir a infeção). A investigação que esta semana é apresentada internacionalmente foi feita com dados de 2014 e mostra que Portugal tinha apenas cerca de 65% das pessoas diagnosticadas em tratamento. António Diniz e os outros investigadores subdividiram este campo para tentar compreender os passos intermédios entre o diagnóstico e o tratamento. «Do diagnóstico ao tratamento é como um saco muito grande, porque há passos intermédios. Primeiro é preciso que as pessoas cheguem aos serviços de saúde e depois que se mantenham», justificou o antigo coordenador do Programa para o VIH/sida, em entrevista à agência “Lusa”. Do total de pessoas diagnosticadas são seguidas pouco mais de 80% e, das que são «verdadeiramente seguidas», só 79% estavam em tratamento na altura. A junção destes dois dados fez com que apenas 64,4% das pessoas diagnosticadas com VIH/sida estivessem a receber, de facto, tratamento, quando a meta para 2020 é de 90%. António Diniz ressalva que esta avaliação reporta a 2014, quando só em 2015 foi instituído o princípio de que todos os doentes que fossem diagnosticados com VIH deviam começar de imediato a receber tratamento. Até aí, havia indicação de que algumas pessoas não deviam iniciar tratamento. |