Quase metade dos doentes com enfartes não recebe o tratamento mais eficaz 302

Quase metade dos doentes com enfartes não recebe o tratamento mais eficaz

01 de Junho de 2015

Quase metade dos doentes que sofreram um enfarte agudo do miocárdio (EAM) deram entrada em serviços de urgência hospitalar sem capacidade para o tratamento mais eficaz para este ataque cardíaco, que é a angioplastia primária.

A conclusão é do inquérito anual da iniciativa Stent For Life Portugal, ontem divulgado, e que resultou de uma análise de todos os dados de doentes que sofreram um EAM, realizada durante um mês.

O objetivo desta análise foi «identificar os fatores que influenciaram o tratamento» do ataque cardíaco.

De acordo com os resultados do inquérito, apenas 37% dos doentes que sofreram um EAM recorrem ao Número Europeu de Emergência (112) para ter «a necessária assistência médica pré-hospitalar e o encaminhamento para o hospital adequado ao seu tratamento».

O inquérito indica que «46% destes doentes dão entrada no serviço de urgência de hospitais que não têm capacidade para realizar uma Angioplastia Primária, o tratamento mais eficaz para o EAM».

Os autores do documento apontam para a necessidade de melhorar, «de forma significativa, o recurso ao 112».

«O Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) dispõe de profissionais qualificados para identificar precocemente o EAM e assegurar que as várias entidades intervenientes na emergência médica pré-hospitalar transportam o doente para um hospital que disponha de unidade de hemodinâmica onde possa ser realizada a angioplastia primária», lê-se nas conclusões do inquérito, citado pela “Lusa”.

Os especialistas que compõem o Stent for Life Portugal – uma iniciativa da Sociedade Europeia de Cardiologia para «melhorar o acesso dos doentes à melhor terapêutica atual para o EAM» – para que a angioplastia primária possa ser eficaz é fundamental que este procedimento seja efetuado idealmente até 90 minutos após início dos sintomas.

Para Hélder Pereira, coordenador da iniciativa Stent For Life Portugal, «este atraso no tratamento dos doentes verifica-se sobretudo porque a população continua a desconhecer quais são os sintomas do enfarte».

Nos casos em que o doente sabe quais são os sintomas, existe «uma desvalorização dos mesmos, fica-se na expetativa que não seja nada de grave e que a dor no peito acabe por desaparecer, o que significa que se perde tempo precioso para a realização do tratamento», segundo este cardiologista.

A dor no peito é o sintoma mais comum no EAM e é muitas vezes descrita como uma sensação de pressão, aperto ou ardor.

Esta dor pode também ocorrer noutras partes do corpo (geralmente no braço esquerdo, pescoço ou queixo) e é acompanhada de falta de ar, náuseas, vómitos, batimentos cardíacos irregulares, suores, ansiedade e sensação de morte eminente.

«Logo desde o início dos sintomas é importante ligar 112 e não tentar chegar a um hospital pelos seus próprios meios ou com a ajuda de familiares», aconselha Hélder Pereira.

As doenças cardiovasculares, como o EAM, continuam a ser uma das principais causas de morte em Portugal.