Rita Oliveira, farmacêutica hospitalar de 51 anos, é a Coordenadora do Circuito do Medicamento nas Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ). Trabalha atualmente como Diretora Técnica da farmácia da CUF Tejo, estando ainda responsável por outras unidades [Sintra, Cascais e Almada, entre outros]. Em entrevista exclusiva ao Netfarma, a responsável falou do convite para as JMJ, das suas próprias motivações, do trabalho em si e até dos principais obstáculos que poderão surgir.
Com um percurso profissional que até começou na farmácia comunitária, já leva mais de 26 anos na farmácia hospitalar, o que sempre foi o seu “desejo”.
O desafio que lhe foi lançado para ser responsável pelo circuito do medicamento, assegurando o cumprimento de todas as exigências técnicas, disse-lhe “bastante”, por ser também “católica e ter uma formação muito robusta na parte cristã e católica, nomeadamente nos colégios de Santa Doroteia e São João de Brito”. “Por amor e dedicação juntei vários temas, que foram as Jornadas Mundiais da Juventude, a participação do Papa, estar com um grupo de jovens católicos e ainda com uma parte da farmácia que é cuidar do circuito do medicamento”.
Assim, Rita Oliveira teve a seu cargo contactos importantes com o Infarmed e outras entidades para que “os medicamentos estejam bem acondicionados, com controlo total da temperatura e humidade, para estarem em boas condições e seguirem para os peregrinos, familiares ou mesmo o staff das Jornadas, sempre que haja necessidade”.
“Esperemos que não haja muita necessidade de dar medicamentos, seria um bom sinal, mas, no caso de serem precisos, nós estamos preparados para salvaguardar as primeiras necessidades. Certamente depois existirão encaminhamentos para outras estruturas como o INEM ou os hospitais, mas nós somos a primeira linha em termos de cuidados de saúde”, destacou.
Questionada sobre os aspetos mais práticos da sua intervenção e da equipa que coordena nas JMJ, a farmacêutica começou por explicar que foram “pedidas doações aos laboratórios e outras entidades, de por exemplo medicamentos não sujeitos a receita médica ou doações financeiras”. E continuou: “Isto para que seja possível montarmos todos os 26 postos de medicação que vamos ter nas Jornadas, para apoiar os peregrinos e também quem tiver necessidades especiais”.
Assim, um “conjunto de medicamentos não sujeitos a receita médica estará acondicionado em malas específicas e adequadas que vão garantir as condições exigidas entre 24 e 48 horas”. “Temos um staff de voluntários farmacêuticos e outros profissionais que nos vão ajudar a preparar todo o stock, bem como preparar as mochilas que vão estar com as equipas de saúde móveis, que vão andar entre os peregrinos e toda a população”, disse também.
O grupo de trabalho, com “cerca de 40 voluntários farmacêuticos”, vai essencialmente “promover a distribuição, o acondicionamento do medicamento nos locais indicados e ir ao encontro do que são as exigências legais para esta mesma distribuição”. “E, ainda, fazer com que, de uma forma global, as entidades responsáveis pelas Jornadas, pelos medicamentos e, em última instância, o Estado português e o nosso país, fiquem bem representados naquilo que diz respeito ao circuito do medicamento”, fez questão de acrescentar.
Acerca do papel da farmácia comunitária no evento, Rita Oliveira preferiu falar “nos termos práticos”, como a organização ou a importância de ser assegurado que existem profissionais que falem outros idiomas para atender às necessidades dos peregrinos.
“Penso que deveriam fazer um reforço de todos os medicamentos que serão mais expectáveis de serem pedidos pelos peregrinos. Estou a falar de medicamentos, por exemplo, para as dores de cabeça, dores musculares, diarreias ou insolações. Ou seja, aqueles que podem ser os problemas mais vulgares. Devem ter stock suficiente e não estarem dependente dos pedidos aos distribuidores, para que não haja, no fundo, situações não respondidas ou não acauteladas”, referiu.
Em Lisboa e Loures peregrinos das JMJ com doenças crónicas têm acesso a medicação sem receita
E, noutra nota, disse que os profissionais da farmácia comunitária deviam estar, se possível, disponíveis para “receber alguém que esteja mais ansioso, nervoso ou que precise de falar“. Aqui destaca a “calma habitual dos farmacêuticos no balcão da farmácia, de saber ouvir, aconselhar ou desmontar alguns receios”.
Destacou ainda a necessidade de existirem “horários alargados e compatíveis com as atividades, movimentações e permanência dos peregrinos, porque além das iniciativas as pessoas vão ficar acampadas ou em famílias de acolhimento”. “Falo não só das farmácias mais próximas dos locais dos eventos, mas da Grande Lisboa, porque existem muitas paróquias ou famílias a acolher peregrinos. As necessidades podem não vir só do Parque Eduardo VII, do Parque Tejo ou da Avenida da Liberdade, mas também dos sítios onde as pessoas estão a dormir e, no fundo, a viver”, frisou.
Questionada acerca de quais os principais e possíveis obstáculos, ou preocupações, foi clara: “Aquilo que mais me preocupa em relação às Jornadas é não conseguir estar à altura das mesmas, que por condicionantes de trânsito ou de mobilidade não consigamos pôr os medicamentos necessários à hora certa no local indicado. A questão da mobilidade, honestamente, é a que me preocupa mais. A força de vontade e a garra com que nós estamos a trabalhar, com que a minha equipa está a trabalhar e com que os voluntários trabalham não me preocupa de todo, porque vejo que é a melhor e a máxima possível”.
“A mobilidade é mesmo aquilo que me preocupa mais. Porque não havendo estes eventos, a mobilidade em Lisboa já é por vezes muito difícil, quanto mais quando chegam milhões de pessoas ao nosso país”, concluiu.