OMS: Raparigas têm menos saúde mental do que rapazes da mesma idade 15 de Março de 2016 As adolescentes europeias têm pior saúde mental do que os rapazes da mesma idade e, embora tenham menos excesso de peso, têm mais probabilidade de pensar que são gordas e de entrar em dietas, revela a OMS. «Há uma clara emergência da desigualdade entre rapazes e raparigas, que começa na adolescência», disse à “Lusa” Gauden Galea, diretor da divisão de Doenças Não Comunicáveis e Promoção da Saúde no escritório da Organização Mundial de Saúde para a Europa, a propósito de um estudo sobre saúde dos adolescentes hoje divulgado. Realizado entre 2013 e 2014 junto de 220 mil adolescentes de 11, 13 e 15 anos em 42 países da Europa e América do Norte, o inquérito “Health Behaviour in School-aged Children” (HBSC) da Organização Mundial de Saúde conclui que 80% dos adolescentes estão genericamente satisfeitos com a sua vida. No entanto, a satisfação com a vida diminui com a idade e aos 13 anos começam a surgir as diferenças entre rapazes e raparigas, sendo estas menos satisfeitas do que eles. Há também uma diferença na proveniência dos adolescentes: os jovens de famílias mais afluentes têm em geral maior satisfação com a vida. Segundo o relatório, as raparigas relatam ter menos saúde mental do que os rapazes e aos 15 anos, por exemplo, uma em cada cinco adolescentes diz que a sua saúde é regular ou fraca e metade diz ter queixas de saúde pelo menos uma vez por semana. Um outro exemplo, destacado por Gauden Galea em entrevista à “Lusa” por telefone, «é que, embora objetivamente não tenham mais excesso de peso ou obesidade, [as raparigas] estão muito mais preocupadas com a sua aparência, têm muito mais probabilidade de estar insatisfeitas e de entrar em dietas». Com efeito, 22% dos rapazes de 15 anos têm excesso de peso, contra 13% das raparigas, mas 43% das raparigas da mesma idade acha que é demasiado gorda, contra 22% dos rapazes. Um quarto das raparigas de 15 anos diz estar a fazer dieta ou a tomar outras medidas para perder peso. «Isto é um sintoma das pressões sobre as jovens para terem um certo aspeto, uma determinada imagem corporal», disse Galea. O responsável sublinhou que a situação está também ligada à situação económica da família, sendo a perceção da saúde pior nas famílias mais pobres. «Isto sugere que há um contexto social, que as famílias menos abastadas precisam de mais apoio, os pais precisam de ajuda para serem melhores pais», disse. Galea defende por isso que os países devem abordar as conclusões deste relatório de uma forma transversal, juntando os ministérios da Saúde, Educação e Segurança Social, para «dar alguma atenção à situação das famílias e populações mais pobres». Outra conclusão, defendeu, é que é preciso «valorizar mais as raparigas», que «precisam de aprender a desenvolver uma boa autoestima, a valorizar a sua vida e a saúde». Precisam também de «entender as pressões a que estão sujeitas», nomeadamente dos média, «e saber ter recursos e resiliência para resistir ao impacto dessas mensagens». O relatório HBSC é realizado de quatro em quatro anos desde há 33 anos e tem influenciado as políticas e a legislação em vários países europeus, diz a OMS. «Os comportamentos relacionados com a saúde e os hábitos sociais adquiridos na segunda década de vida podem prolongar-se pela idade adulta e afetar toda a vida», disse a diretora regional da OMS para a Europa, Zsuzsanna Jakab, citada num comunicado. «Um bom começo pode durar uma vida inteira». |