A República Democrática do Congo (RDCongo) está em “alerta máximo” devido a uma doença de origem desconhecida, da qual foram detetados 382 casos e relatadas pelo menos 71 mortes, disse o ministro congolês da Saúde Pública, Samuel Mulamba.
Na passada terça-feira, o seu ministério calculou em 79 o número de mortos devido à doença na zona de Panzi, na província do Kwango. Mulamba, citado pela Lusa, atualizou, ontem (dia 05), esse número para 71, afirmando que 27 pessoas morreram em instalações médicas e 44 outras foram dadas como mortas pela comunidade. Entre as mortes que ocorreram nos hospitais, dez morreram por falta de transfusão de sangue e 17 devido a problemas respiratórios, acrescentou.
O ministro provincial da Saúde do Kwango, Apollinaire Tiabakwau, disse em declarações divulgadas pela imprensa local que o número de mortos subiu para 135, um número que não foi confirmado pelas autoridades nacionais.
Jean Kaseya, chefe do Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças, disse aos jornalistas que mais pormenores sobre a doença deverão ser conhecidos nas próximas 48 horas, à medida que os peritos forem recebendo os resultados das amostras de laboratório das pessoas infetadas.
“Os primeiros diagnósticos estão a levar-nos a pensar que se trata de uma doença respiratória”, disse Kaseya. “Mas precisamos de esperar pelos resultados laboratoriais”. Kaseya acrescentou que há muitas coisas que ainda são desconhecidas sobre a doença, nomeadamente se é infecciosa e como é transmitida.
As mortes foram registadas entre 10 e 25 de novembro na zona sanitária de Panzi, na província do Kwango. Foram registados 382 casos, dos quais quase metade eram crianças com menos de cinco anos, acrescentou Mulamba.
As autoridades afirmaram que os sintomas incluem febre, dor de cabeça, tosse e anemia. Especialistas em epidemiologia estão na região para recolher amostras e investigar a doença, disse o ministro.
Na região remota de Panzi, de difícil acesso por estrada e onde as infraestruturas sanitárias são praticamente inexistentes, a população vive numa situação de pobreza generalizada, sofrendo de falta de acesso a água potável e a medicamentos.
Os especialistas em epidemiologia levaram dois dias para chegar ao local, disse o ministro. Devido à falta de capacidade de análise, as amostras tiveram de ser levadas para Kikwit, a mais de 500 quilómetros de distância, disse Dieudonne Mwamba, diretor do Instituto Nacional de Saúde Pública.
Mwamba disse que Panzi já era uma zona “frágil”, com mais de 40% dos seus habitantes a sofrer de malnutrição. A zona também foi atingida por uma epidemia de febre tifoide há dois anos e atualmente existe um ressurgimento da gripe sazonal em todo o país.
“Precisamos de ter em conta tudo isto como contexto”, disse Mwamba.
Lucien Lufutu, presidente da estrutura de consulta da sociedade civil da província do Kwango, que está em Panzi, disse que o hospital local onde os pacientes são tratados está mal equipado.
“Há falta de medicamentos e de material médico, uma vez que a doença ainda não é conhecida, a maior parte da população é tratada por médicos tradicionais”, disse Lufutu à AP, adiantando que a doença afetou Katenda, outra zona sanitária próxima.
Quando questionado sobre um potencial surto noutras zonas sanitárias, o ministro disse que não sabia dizer se era esse o caso, mas que nada tinha sido comunicado.
A RDCongo enfrenta uma epidemia de varíola, com mais de 47.000 casos suspeitos e mais de 1.000 mortes suspeitas da doença no país, de acordo com a Organização Mundial da Saúde.